Mas confesso que gosto mesmo das áreas mais selvagens e ainda menos urbanizadas. Longe do ruído a gente consegue apreciar melhor a paisagem, observar o fluxo das águas. Acho que isso é o que me atrai mais nesses passeios – ver o movimento das águas: sempre em frente, sem se deter, imutável na sua eterna impermanência. Esse poder avassalador da gravidade que faz com que o rio siga sempre adiante e nunca volte para trás.
De certa forma, assim também é a nossa vida. Como diz a canção de Jorge Drexler (Movimiento), somos uma espécie em viagem, não temos pertences, senão o que levamos conosco, vamos como o pólen ao vento, estamos vivos porque estamos em movimento. Por mais que não aceitemos a mudança ou que queiramos permanecer num mesmo lugar, o tempo age como essa força de gravidade que nos impele sempre adiante. E mesmo que a gente decida voltar a um lugar do passado, essa é sempre uma viagem de descoberta do quanto a gente mesmo mudou.
Iguaçu Falls, Paraná – Brazil
Uma vez, uma mestra iogi me disse que nosso sofrimento advém da nossa resistência diante das coisas. Isso me levou a refletir bastante, pois sempre amei os símbolos de resistência – os monumentos, as obras de arte, as cartas, as fotografias, as histórias contadas de geração em geração, Varsóvia reconstruída. Saber que algumas coisas permanecem, apesar da irrevogável passagem do tempo, sempre nos conforta. Nos dá aquele sentimento de segurança diante da fugacidade da vida.
Mas se olharmos bem de perto, percebemos que mesmo esses objetos que parecem imutáveis apenas persistem pelo conjunto de inúmeras pequenas mudanças. O restaurador que retirou a fuligem de um quadro antigo, o arquiteto que cuidou da sutura das rachaduras e da troca das peças danificadas do telhado de um antigo palácio, a bisneta que guarda a carta da irmã de seu bisavô como um tesouro.
Às vezes a gente se detém com tantas forças em um limiar da vida, e deixa de prestar atenção à correnteza. É como se tentássemos nos agarrar com tanta força às margens, quando tudo o que precisamos é nos soltar, seguir as curvas do rio até enfim se tornar oceano.
O mesmo com as canções, os pássaros, os alfabetos
Se quer que algo morra, deixe-o quieto
Agradeço às minhas amigas que inspiraram essas reflexões Luz, Cris e Arlene Neto.
Você pode ouvir a canção de Jorge Drexler aqui
About becoming an ocean
Every weekend, at least in the warm months, my feet got used to make the way to the river. Unlike other European capitals such as Paris or London, which have densely urbanised riverbanks, in Warsaw the river is still a bit disconnected from the rest of the city. Not long ago, part of the improvement works on the riverbanks was opened to the public, next to the old town. The project is very interesting and has been encouraging crowds to get closer to the river.
But I must confess that I prefer the wilder and less urbanised areas. Far from the noise we can appreciate better the landscape and observe the flow. I guess this is what I like the most in these walks – to watch the movement of the waters: always forward, never stopping, changeless in its eternal impermanence; to see this overpowering force of gravity that makes the river always go forward and never go back.
In a way, so is our life. As the song of Jorge Drexler (Movimiento) says, we are a species on the road, we have no belongings, but what we take with us, we go like the pollen in the wind, we are alive because we are in movement. As much as we do not accept change or want to stay in the same place, time acts like this force of gravity that always pushes us forward. And even if we decide to return to a place in the past, this is always a journey to discover how much we have changed.
Once, a yoga master told me that our suffering comes from our resistance to things and life circumstances. This led me to reflect a lot, because I always loved the symbols of resistance – monuments, works of art, letters, photographs, stories told from generation to generation, reconstructed Warsaw. To know that some things remain, despite the irrevocable passage of time, always comforts us. It gives us that sense of security in front of the fleetingness of life.
But if we look very closely, we realise that even these seemingly immutable objects only remain through a set of innumerable small changes. The art restorer who removed the soot from an old painting, the architect who indicated the suturing of the cracks and the exchange of the damaged parts of the roof of an old palace, the great-granddaughter who keeps the letter of his great-grandfather’s sister as a treasure.
Sometimes we feel so strongly paralysed at the edge of a life situation that we stop paying attention to the flow. It is as if we are trying to hold on to the riverbanks so hard when all we need is to let it go, to let the flow takes us, following the river bends until it finally becomes the ocean.
The same with the songs, the birds, the alphabets
If you want something to die, leave it alone
I am very thankful to my friends who inspired these reflections: Luz, Cris and Arlene Neto.
You can listen to the Jorge Drexler song here.
Querida Camila, vc é ótima no que faz! Uma linda artista!
Arlene querida, só tenho a agradecer por ter te conhecido <3 Você é sempre uma inspiração, e suas palavras repercutem em mim até hoje. Obrigada!
Cami querida! Amo o seu jeito de viver, vc consegue o que a maioria das pessoas buscam, apreciar os pequenos prazeres da vida. Eu que agradeço por vc me inspirar <3
Cris minha querida!! Obrigada <3 Imensamente feliz pela sua presença em minha vida, e pelas palavras sábias e sempre carinhosas.