Maringá: um tour pela terra vermelha

Sempre tive curiosidade de conhecer Maringá e, num final de semana durante a primavera, mais precisamente em setembro de 2019, eu e a Gigi Eco decidimos explorar quais encantos esse pedaço do Brasil tinha a nos oferecer. Um dos fatores que aguçou nossa curiosidade de conhecer Maringá é o fato de ser reconhecida como uma das cidades mais arborizadas do mundo e de ter sido eleita recentemente a melhor cidade do Brasil pra se viver. Nosso espírito aventureiro queria comprovar se Maringá é realmente tudo isso que é divulgado.

O município está situado no norte Paraná, distante aproximadamente 415 km de Foz do Iguaçu, 420 km de Curitiba e 117 km de Londrina. Possui cerca de 423 mil habitantes. Maringá tem uma economia muito desenvolvida, com atuação representativa nos setores de agronegócios, comércio e serviços, além de recentemente ter se tornado um importante pólo tecnológico, atraindo startups e empresas de TI. Maringá almeja se tornar nas próximas décadas o “Vale do Silício” brasileiro. A cidade foi fundada em 1947, sendo extremamente arborizada e planejada.

Teve significativa influência da imigração japonesa, traços que podem ser notados no planejamento da cidade e em suas ruas arborizadas, com uma flora invejável e vegetação repleta de árvores que lembram em sua forma um bonsai gigante. Maringá foi eleita por dois anos consecutivos (2017 e 2018), pela consultoria Macroplan, como a melhor cidade do Brasil para se viver, cujo estudo avalia a performance dos municípios brasileiros sobre quatro macro perspectivas: educação, saúde, segurança e saneamento/sustentabilidade. É importante ressaltar que Maringá destaca-se também pelo turismo religioso, sendo possível explorar alguns pontos turísticos, notadamente relacionados ao budismo, catolicismo e islamismo.

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Árvores em meio à cidade

Para otimizar o tempo no final de semana, cheguei numa sexta-feira à noite, através do aeroporto de Maringá, vindo de São Paulo, e a Gigi veio de ônibus a partir de Ponta Grossa. Hospedamo-nos no Hotel Harbor Self Cidade Verde Maringá, que possui um café da manhã impecável e bom custo-benefício. Está situado na zona central da cidade, bem próximo à Catedral de Maringá. Aliás, essa região provavelmente é a melhor para se hospedar, pois muitas atrações concentram-se no entorno (como o Parque do Ingá, bons restaurantes, comércio e shoppings), sendo possível desfrutar de uma agradável caminhada pela região no deslocamento entre algumas dessas atrações.

Diferente da percepção que tivemos nas nossas aventuras em Castro, em que foi essencial estar de carro para deslocamento entre os pontos principais, em Maringá o Uber cumpre muito bem essa função a um preço acessível, inclusive para percorrer distâncias maiores.

Iniciamos nossas aventuras num sábado de manhã, após um café da manhã reforçado e saboroso no Hotel Harbor Self Cidade Verde Maringá.

PRIMEIRA PARADA : Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Glória

Construída entre 1958 e 1973, é o cartão-postal da cidade de Maringá e o monumento religioso mais alto da América Latina, com cerca de 114 metros de altura. Seu formato assemelha-se a um foguete e, do ponto de vista arquitetônico, não há nenhuma outra construção semelhante no Brasil.

Ficamos deslumbrados com a força e energia positiva desse local. Inclusive, a catedral está situada no centro de uma enorme praça, em que famílias e amigos aproveitam para desfrutar da ensolarada Maringá, muitos levando cadeiras de praia para relaxar em meio ao ambiente arborizado. Ao anoitecer, muitos permanecem reunidos ao redor da praça, apreciando a bela Catedral que fica inteiramente iluminada com uma luz verde. Há uma sensação de descontração no ar. Lembra um clima de praia que não estamos acostumados a ver nas grandes cidades.

Um ponto importante é que a Catedral possui uma escadaria para acesso até seu mirante. No entanto, no período que fomos estava desativada, porque estava em reforma. Perguntamos a um funcionário, que não soube informar a previsão de inaugurar a escadaria, mas certamente vamos voltar quando estiver pronta.

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Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Glória
Vista noturna da Catedral

SEGUNDA PARADA: Parque do Ingá

Esse lugar é simplesmente mágico. Trata-se de uma reserva florestal com cerca de 47,3 hectares. O parque foi projetado nos mínimos detalhes para nos sentirmos imersos na natureza, fazendo-nos esquecer por alguns instantes de que estamos numa área urbana. O mais fascinante é que para acessar o lago e a pista de caminhada centrais, é necessário percorrer uma trilha em meio à mata. Durante o percurso avistamos algumas espécies nativas, soltas livremente pelo parque, como um pavão, lagartos e tartarugas. O parque nos ensinou que é possível o convívio harmonioso entre o homem e animais silvestres.

O Ingá conta com diversos atrativos, como um jardim japonês, a gruta de Nossa Senhora Aparecida, além de uma réplica de uma minirreserva de Mata Atlântica. Mas foi no pedalinho que voltamos a ser crianças, pois os que ficam no lago central contam com réplicas de cisnes e caravelas. Nós, como descendentes de ibéricos (inclusive meu avô é português), logicamente escolhemos pedalar na caravela, onde pudemos por em prática os instintos de nossos antepassados, dotados de espírito aventureiro e sempre em busca de novas descobertas.

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Explorando o Parque do Ingá de caravela
Pavão do Parque do Ingá
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Marcas orientais no Parque do Ingá
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Eu e a Gigi explorando o Parque
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Encontramos lagartos pelo caminho
Bosque encantado do Parque do Ingá
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Havia uma ilha no meio do caminho
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Caravelas em alto mar… quer dizer, nas águas do lago do Parque do Ingá

TERCEIRA PARADA: Parque do Japão

Esse local fica um pouco mais afastado da área central da cidade e é o maior jardim japonês do mundo, fora do Japão. A Gigi e eu temos um fascínio enorme pela cultura japonesa, pelo cuidado na elaboração dos jardins orientais e pelo cultivo dos impressionantes bonsais.

O parque é minuciosamente planejado, a riqueza está em observar a grandeza de cada detalhe. Basta se sentar próximo ao lago principal e perceber a energia positiva que é internalizada dentro de nós com a harmonia do local. Ficamos quase uma hora captando a sintonia do parque e escutando a correnteza da água que escorre pelos lagos do parque. O lugar é ideal para um passeio romântico.

No dia em que fomos no local, boa parte estava em reforma, inclusive um dos lagos foi esvaziado. O restaurante local também encontra-se desativado no momento, sem previsão de retomar as atividades. Porém, para compensar, há uma pequena lanchonete vendendo deliciosos pastéis e, nesse ponto, os japoneses são imbatíveis.

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Nós em um passeio oriental em Maringá
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Desbravando o Oriente em Maringá

QUARTA PARADA: Bosque das Grevíleas

Apesar de ser uma praça aberta, esse local assemelha-se com um parque por conta de seu vasto tamanho. Dentro da praça, há uma enorme pista de caminhada totalizando aproximadamente 2 km, em que podemos observar uma vegetação muito florida durante a trilha. A Gigi aproveitou para apreciar as belas flores da região durante a primavera. Que harmonia e paz interior pudemos captar desse bosque! O local é ideal para uma caminhada ao amanhecer ou no final da tarde.

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Flores no Bosque das Grevíleas
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QUINTA PARADA: Bosque II

Confesso que cometemos uma grande gafe ao chegar no lugar. Estamos sempre acostumados a procurar a entrada de acesso aos parques, porém o conceito do Bosque II é diferente. O parque não pode ser acessado em seu interior, trata-se de uma enorme reserva de Mata Atlântica no meio da cidade, sendo considerado uma área de preservação ambiental. Porém, só descobrimos isso após percorrermos cerca de 3,3 km na pista de caminhada que contorna a área externa de todo o local e constatarmos que não havia nenhum acesso para entrada em seu interior.

Além disso, o motorista do Uber que nos deixou no local era morador de Maringá e não sabia disso. Ele simplesmente sugeriu que fossemos andando pela pista de caminhada e uma hora encontraríamos a entrada principal. Após caminhar todo o entorno da reserva, demos risada e saímos felizes e revigorados pelo exercício em meio a uma linda tarde ensolarada.

Realmente, a proposta do Bosque II é diferente e a ideia é que ele funcione como uma espécie de “pulmão” da cidade, preservando algumas espécies nativas. Achamos um lugar agradável para caminhar, respirando um ar puro numa cidade que já é totalmente verde.

Caminhada no Bosque II

SEXTA PARADA: Restaurante Bangkok Garden

Nós estamos acostumados com a vasta gastronomia da cidade de São Paulo, mas confesso que nunca tinha frequentado um restaurante especializado em comida tailandesa. Já tínhamos em mente que iríamos nos surpreender com os parques, a natureza e o planejamento de Maringá, mas não esperávamos estender essa expectativa com a culinária. Após um dia de calor intenso, com muita caminhada pelas cinco paradas anteriores, retornamos para o hotel e começamos nossa pesquisa para decidir aonde jantar. Somos fascinados por restaurantes temáticos e em Maringá não foi diferente.

A Gigi, como uma típica representante das raízes sulistas, inicialmente pensou em churrasco. Já eu, influenciado pela forte presença italiana na culinária paulistana, pensei em massa ou pizza. No final, chegamos a um consenso para então apreciarmos uma culinária mais exótica. Estávamos tão fascinados pelos traços que a cultura oriental deixou em Maringá que, após algumas buscas no Google, nos interessamos pela proposta de um restaurante tailandês.

O Bangkok Garden tem um estilo muito peculiar e aconchegante. Apesar do espaço pequeno, os proprietários souberam tematizar bem a área com traços da cultura tailandesa. Ao adentrar no espaço, nos sentimos num templo budista.

Os pratos tailandeses costumam ser bem apimentados, mas o restaurante está preparado para balancear a dose conforme a preferência do cliente. Pedimos uma entrada de pastéis de frango, em seguida, saboreamos como prato principal o Gai Phat Met Mamuang Himmaphan, um belo prato com pedaços de frango, misturado com vários temperos tailandeses, e complementado com arroz, cenoura, tomate, castanha-de-caju, entre outros.

Detalhes do Bangkok Garden
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Gigi e eu experimentando comida tailandesa

SÉTIMA PARADA: Templo Budista Jodoshu Nippakuji

Já no domingo de manhã, aproveitamos para conhecer um templo budista. Ao chegar no local, inicialmente nos decepcionamos um pouco, pois somente o acesso externo ao templo estava aberto. Porém, jamais imaginaria que apreciaríamos tanto um templo somente pelo lado externo. A Gigi aproveitou não haver movimentação de pessoas no local para treinar suas habilidades no yoga. O templo estava livre somente para nós, então aproveitamos para curtir a atmosfera serena do local e para tirar fotografias de diferentes ângulos.

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Serenidade e Yoga no Templo Budista Jodoshu Nippakuji

Apesar de já ter conhecido cidades muito bonitas, cercadas por bela natureza ou lindas praias, foram raros os lugares em que me atrevi a dizer que gostaria de morar. Maringá foi um desses lugares. Calor, infraestrutura, planejamento, segurança, parques, muitas áreas verdes, variedade de culinária e entretenimento, além de várias opções culturais e comércio e serviços. Praia? Não, Maringá não tem praia. De todo o modo, a cidade está somente à 180 km da Prainha de Porto Rico, uma bela “praia” de água doce em meio ao Rio Paraná.

Maringá também me pareceu ser um dos poucos lugares no Brasil em que os pais ainda têm a oportunidade de caminharem com os filhos pelas ruas da cidade, com relativa sensação de segurança. Por fim, ainda faltou conhecer alguns pontos turísticos, como a Mesquita Sheik Mohamed Ben Nasser Al Ubudi, o parque Alfredo Nyfeler e o Mercadão de Maringá. Mas nosso tempo era curto e meu voo de volta estava programado para a parte da tarde. Fico animado de pensar que deixamos alguns lugares ainda inexplorados, para conhecermos em nossa próxima visita a essa cidade que tanto nos encantou.

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Written by Leandro
Paulistano de nascimento e paranaense de coração, Leandro Henrique de Assis sempre foi questionador e curioso. Aos 10 anos, mergulhou no mapa-múndi e decorou as capitais de todos os países do mundo. Viajante experiente, aos 30 anos concretizou seu sonho de realizar um intercâmbio em Vancouver, no Canadá. Hoje trabalha no mercado financeiro e planeja a sua próxima viagem para explorar o mundo.