Viaje para a Inglaterra do passado: uma resenha da obra ‘Orgulho e Preconceito’, de Jane Austen

Todos os anos, quando me sinto perdida e não sei qual será minha próxima leitura, eu me vejo com Orgulho e Preconceito nas mãos. Esse romance de Jane Austen é um dos meus livros preferidos de todos os tempos. Há algumas histórias que acompanham a gente durante toda a vida. Elas nos inspiram, curam-nos, ampliam nossa visão de mundo. São contos que nos ensinam sobre amor e paciência. Sobre todos aqueles sentimentos, sonhos e angústias que nos fazem humanos.

A escritora inglesa começou a trabalhar na obra no período de 1796-1797, com o título inicial de Primeiras Impressões. Austen levou seus manuscritos consigo quando se mudou com a família para Bath. Nesse período em que viveu nessa agitada cidade balneária inglesa, revisou o texto e, em 1813, publicou pela primeira vez a obra, com o nome pela qual passamos a conhecer ao longo das décadas: Orgulho e Preconceito.

Na história, acompanhamos a jornada de Elizabeth Bennet e de Mr. Darcy, um dos casais mais amados da literatura, que enfrentam seus julgamentos precipitados, erros e orgulho para estarem juntos. É aquela famosa trama de “eles se odeiam, mas na verdade se amam e ficam juntos no final” que foi anteriormente explorada nas personagens de Beatriz e Benedito, no divertido Muito Barulho Por Nada, de William Shakespeare.

Mas Austen não fica atrás do Bardo. Na guerra dos sexos que acompanhamos em Orgulho e Preconceito, somos convidados a refletir sobre a profundidade dos sentimentos humanos e a complexidade de cada indivíduo, que carrega sua própria história de vida, seus medos, sonhos, vícios, defeitos e amores. A escritora inglesa, com seu arguto e irônico olhar sobre a sociedade em que vivia, escancara os preconceitos e hierarquias sociais. Ela nos ensina a desconfiar sempre das primeiras impressões. Austen brinca com nossos sentidos e mostra que o mocinho de boas aparências e cativante pode ser um bad boy disfarçado, enquanto o homem rico e de atitudes arrogantes é, na verdade, o herói da história.

A autora também nos conta que nem sempre os vilões são punidos. Afinal, a vida real não é maniqueísta como os desenhos animados da infância nos mostravam. Austen também nos revela durante a leitura: não tem problema errar. Precisamos aprender com as falhas e seguir adiante, se não quisermos permanecer em uma teia de frivolidades, superficialidades e desejo por status social, como a sra. Bennet em sua incessante busca por maridos para suas cinco filhas.

Ao tratar de situações e sentimentos que as pessoas vivenciavam em sua época (e também hoje), Austen nos revela o que de mais bonito experimentamos em nossas próprias vidas e que nos caracteriza como humanos: essa sensibilidade intensa e a busca pela felicidade. Orgulho e Preconceito nos encanta ao mostrar que as histórias são sempre sobre amor, mas não só sobre isso. As narrativas que construímos de nossas próprias vidas são sobre amor por si e pelos outros. Também são contos, ao mesmo tempo, que falam sobre dinheiro, interesse, orgulho, decepção, arrependimento. Histórias nunca são simples, pois revelam esse caos maluco e extraordinário que é a vida, que nos surpreende a cada instante.

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Written by Gigi Eco
Gigi Eco ama aprender e faz muitas coisas ao mesmo tempo - é jornalista, fotógrafa, professora, rata de biblioteca e musicista por acidente. Ama viajar e é viciada em chás. É a escritora oficial dos cartões de Natal da família. É Doutora em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e atualmente trabalha no seu primeiro livro de poesias.