Apressemo-nos para amar as pessoas

Esse é o título de um dos poemas mais famosos escritos pelo padre e poeta polonês Jan Twardowski (1915-2006). Na foto, vemos a casa e o jardim em que ele viveu por muitos anos, na área central de Varsóvia. Esse poema foi dedicado à sua amiga de longa data, também poeta, Anna Kamieńska. Nesses versos, o poeta nos fala sobre o amor e a fugacidade da vida. Nos convida a refletir sobre os mistérios do primeiro e a inevitabilidade da segunda. Sobre como a certeza de que “temos tempo” pode ser ilusória, diminuindo nossa sensibilidade diante do mundo e das pessoas.

Não encontrei traduções disponíveis desse poema para o português, assim apresento a minha própria versão feita a partir do original em polonês. Caso alguém deseje ler a versão em inglês, pode encontrar nesse post. Esse poema é um dos meus favoritos, sempre me emociono ao reler esses versos. Que sua leitura seja um convite para a coragem, para abraçar a urgência da vida, para que quando se trate de amor nunca deixemos para mais tarde.

“Apressemo-nos para amar as pessoas, elas se vão tão rápido
deixando para trás seus sapatos e telefones surdos
apenas o que é irrelevante se arrasta como uma vaca
o mais importante é tão veloz que acontece de repente
depois o silêncio, normal e por isso completamente insuportável
como a pureza nascida diretamente do desespero
quando pensamos em alguém que fomos deixados sem

Não esteja certo de que tem tempo, pois a certeza é impermanente
tira a nossa sensibilidade, assim como cada felicidade
vem simultaneamente como pathos e humor
assim como duas paixões são sempre mais fracas do que uma
tão rápido daqui elas se vão e assim como o tordo silenciam em julho
como um ruído sem jeito ou um aceno seco
para ver de verdade fecham os olhos
embora nascer seja mais arriscado que morrer
amamos muito pouco e sempre muito tarde

Não escreva sobre isso com muita frequência; antes, escreva uma vez para sempre
e será como o golfinho suave e forte

Apressemo-nos para amar as pessoas, elas se vão tão rápido
e aqueles que não partem nem sempre voltarão
e nunca se sabe quando se fala de amor
se o primeiro é o último ou se o último é o primeiro

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Written by Ca Amatti
Ca Amatti é arquiteta restauradora, apaixonada pelos edifícios antigos, por viagens e artes gráficas. Tem saudades do futuro, mas ama os vestígios do tempo no mundo. Atualmente reside em Varsóvia, protegendo velhos palácios e monumentos dos efeitos devastadores do tempo e do esquecimento.