Uma nova filosofia de vida

É como falam de um dos resultados centrais da Teoria do Caos, o Efeito Borboleta:

Poderia um bater de asas de uma borboleta no Brasil causar um tornado no Texas”?

Com esse questionamento, o Efeito Borboleta levanta a hipótese de que pequenas mudanças alteram condições iniciais de grandes sistemas, resultando em transformações estruturais e resultados inesperados. Eu gosto dessa hipótese, ao pensar que o sutil bater de asas de uma pequena (praticamente invisível) borboleta, pode ocasionar tufões e tsunamis do outro lado do mundo.

O Efeito Borboleta me lembra de que pequenas escolhas causam grandes repercussões e transformações avassaladoras em nossas vidas. São nesses diminutos momentos – em que decidimos virar à direita ou à esquerda (por exemplo, se eu tivesse virado à direita naquela tarde chuvosa alguns anos atrás, não teria batido o carro), realizar um intercâmbio fora do país ou ficar na zona de conforto, aprender algo novo ou achar que não tem tempo para isso -, em que tomamos decisões cotidianas, que as borboletas batem suas asas e causam revoluções avassaladoras em nossas vidas. Mesmo que a gente só note muito tempo depois.

Hoje percebo que começar a praticar yôga foi uma desses pequenos instantes decisivos que mudou minha vida completamente. Se eu soubesse na época em que comecei as aulas o quanto essa prática iria colaborar na minha jornada de autoconhecimento, eu agradeceria à academia que fechou as turmas de pilates alguns anos atrás, fato que me deixou bem estressada e me obrigou a procurar algo novo. Naquele instante em que fiquei “sem chão” (estou sendo um pouquinho dramática) e que não encontrava turmas de pilates com horários e preços compatíveis com o que eu queria, a aula de yôga apareceu como uma nova opção. E eu me fiz aquela pergunta emocionante: Por que não?

Foi quando o yôga me encontrou.

De acordo com Iyengar, que escreveu a obra Luz sobre o yoga:

O termo yoga deriva da raiz yuj, do sânscrito, que significa atar, reunir, ligar e juntar, focar e concentrar a atenção em algo, usar em pôr em prática; significa também união e comunhão”.

Eu tinha aquela imagem estereotipada da prática do yôga, na qual as pessoas só ficavam sentadas meditando. Aos poucos fui descobrindo como essa era uma ideia errônea. Yôga vai muito além disso. Em um mundo em que paradoxalmente estamos constantemente conectados pelos dispositivos móveis, mas desconectados de nós mesmos, o yôga fortalece corpo e mente em uma prática completa.

Com o tempo você passa a prestar atenção em sua respiração, em cada movimento do seu corpo, nos pequenos progressos cotidianos. Você percebe que o modo como você vive e enxerga o mundo se refletem em cada asana (palavra de origem sânscrita que significa “postura”).

Nos primeiros meses de prática, as posturas mais impressionantes são as invertidas. A gente pensa: “Minha nossa, eu nunca vou fazer isso”! É aquela voz irritante das crenças limitadoras sussurrando no seu ouvido. “Você vai cair, quebrar seus dentes, ganhar um torcicolo, torcer o pé, entre outras mil tragédias. Melhor ficar na sua zona de conforto. E com os dois pés no chão”, a voz termina arrebatadora.

Sirsasana: a invertida sobre a cabeça. Aproveito para agradecer às professoras Andreza e Milena por todo o aprendizado. E também à professora Milena pelas fotografias.

Demorei muito tempo a me arriscar a tirar os pés do chão. Primeiro eu conseguia subir com o auxílio das professoras, que seguravam os meus pés lá em cima. Depois, com a ajuda da parede. E só meses depois que me arrisquei sozinha. Caí imediatamente. Os instantes após a primeira queda me trouxeram a seguinte constatação: eu continuei inteira. Sem ossos quebrados. Com todos os dentes. E o pescoço intacto. Em seguida, eu me organizei, tentei e caí novamente. Não uma, ou duas, mas dezenas de vezes. E continuo caindo.

A gente não pode deixar de tentar por medo da queda. São nas tentativas que aprendemos a se equilibrar e dançar os sutis movimentos da vida. E, enquanto eu continuei semana atrás de semana caindo, até começar a permanecer alguns poucos segundos na invertida, percebi que aquele pequeno medo da queda em uma das posturas da aula de yôga estava presente em muitas outras áreas da minha vida.

Notei que durante muito tempo eu enxerguei a vida com olhos medrosos, perspectiva essa que com certeza me paralisou diante de experiências incríveis que poderia ter vivenciado. Essa é uma das incríveis lições que o yôga me trouxe. Também aprendi que sempre teremos apoio em nossas empreitadas (o professor e a parede no caso da invertida). Mas, se quisermos ter uma vida plena, uma hora é preciso se arriscar sozinho. A gente é mais forte do que imagina e, como costumam dizer:

Se você cair, do chão não passa”.

As práticas também me lembram de que é preciso mergulhar dentro do universo que existe dentro de mim. O yôga me ensina cotidianamente que eu já tenho tudo o que preciso para ser feliz e realizar meus sonhos. Que preciso ser grata. Sempre. Eu não vou ser feliz apenas quando comprar uma casa própria ou quando visitar a cidade natal do Shakespeare ou quando eu terminar o doutorado. Ou eu sou feliz agora ou nunca serei. Porque esse instante em que eu escrevo esse texto é tudo o que eu tenho. E nada mais.

Não é exagero falar que o yôga me mostrou outras formas de enxergar o mundo (inclusive de ponta-cabeça). Que tal você arriscar e experimentar também? Não precisa ser yôga. Mas que seja algo novo. Que seja um sutil bater de asas de uma borboleta que chacoalhe os alicerces da sua vida. E que te mostre que são nas pequenas mudanças do cotidiano que surgem as grandes transformações: a tentativa, o aprendizado, a evolução.

 

Dica para quem se interessou pelo tema: recomendo o documentário Yoga – Arquitetura da Paz. O filme mostra a jornada de dez anos do fotógrafo Michael O’Neill no mundo do yôga. Ao ter o braço direito totalmente paralisado após uma cirurgia, ele encontrou no yôga o seu processo de cura. O documentário é baseado no livro homônimo de O’Neill. Nessa jornada, o fotógrafo presta homenagem aos grandes mestres do yôga ao fotografá-los, apresentando a diversidade de vertentes e linhagens existentes. Também é uma ótima oportunidade de entrar em contato com a filosofia do yôga. O filme está disponível no Netflix.

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Written by Gigi Eco
Gigi Eco ama aprender e faz muitas coisas ao mesmo tempo - é jornalista, fotógrafa, professora, rata de biblioteca e musicista por acidente. Ama viajar e é viciada em chás. É a escritora oficial dos cartões de Natal da família. É Doutora em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e atualmente trabalha no seu primeiro livro de poesias.