As pequenas grandes revoluções de seis de setembro

Eu sempre gostei de aniversários, porque eles me lembram de que estou viva. E às vezes a gente precisa de lembretes. Principalmente quando estamos imersos na rotina, funcionando em modo “automático”. É por isso que eu sempre digo que o dia seis de setembro é o melhor dia do ano, pois é uma data em que o Universo me presenteia com dias intensos (e em que eu comemoro minha chegada nesse mundão).

Nesse dia, eu sempre lembro que preciso agradecer. Evoluir. Ser uma pessoa melhor a cada dia. É como a Alice fala na obra de Lewis Carroll:

Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que já mudei muitas vezes desde então”.

E meus aniversários, ano após ano, são uma mistura de alegrias, tristezas, paixão, cotidiano, aprendizado… É a mesma data que marca novos ciclos e as mudanças que acontecem ao longo do tempo. Não é sempre um dia feliz, mas com certeza é uma data que me oferece lições de transformação e aprendizado de vida que eu sei que preciso e estou pronta para aprender.

As experiências até agora foram as mais diversas, das rotineiras às mais avassaladoras. Teve muita festa com os amigos e a família, muitas velas apagadas na chácara, viagens com direito a bolo e fogos de artifício, noites de rock n’ roll e drinks grátis (alguns vantagens de ser aniversariante). Mas teve também bastante trabalho e crescimento pessoal, o que incluiu aulas para preparar e ministrar e a limpeza de banheiro inundado. E, por fim, não posso deixar de mencionar os momentos mais avassaladores: a chegada de um irmão e a partida de um avô.

Ainda estou absorvendo esse seis de setembro de 2017 com o falecimento do vovô Vitoldo (se é que um dia a gente consegue absorver a morte das pessoas que amamos).

Há poucos dias, vovó Savina, sua esposa, relembrava:

“Ah, eu sei como é quando homem se aposenta e fica só em casa, atrapalhando… Ele ia lavar a alface e derramava um monte de água no chão. Eu ficava louca da vida. Brigava com ele. Ah, se eu soubesse… não teria brigado por tão pouca coisa”.

A vida se faz nas brigas na cozinha. E no fazer as pazes. E no brigar. E no fazer as pazes. Nesse eterno vai e vem do amor, que se constrói nas pequenezas da vida e na beleza das imperfeições.

E ela continuou:

“O Vitchio foi assim rápido. Ele estava ali conversando comigo e eu estava do lado dele. E aí a cabeça dele foi para trás, igualzinho ao pai dele quando faleceu, e eu senti que ele estava indo. E eu falei: “Vitchio, você tá indo embora”? E ele morreu ali. Nos meus braços.”

Aquela briga de cozinha pela água derramada no chão hoje atinge outro status. É preciosidade que a gente carrega no peito. Que faz a gente rir e chorar ao mesmo tempo porque nos lembra de que a vida acontece num piscar de olhos. Porque nos lembra de que estamos vivos. Sentindo, amando.

A morte sempre nos lembra de que houve vida. Que há vida. Correndo em nossas veias e nas pessoas ao nosso redor.

Durante esse ano que passou, as leituras sobre a filosofia oriental acalmaram um pouco meu coração ao olhar para a impermanência sem medo, como parte natural do ciclo da vida. Claro que isso não torna a perda de um ente querido mais fácil, mas ajuda a gente a enxergar os pequenos grandes momentos como sagrados: os dias de trabalho, as idas ao mercado, as brigas na cozinha quando se derrama um monte de água no chão lavando alface.

Por isso, pensando em o quanto o dia seis de setembro do ano passado foi avassalador, hoje não podia ser diferente. Decidir honrar os grandes: aquelas pessoas que mais admiro nesse mundo. Reuni meus pais, meus avós, a tia Regina e meu irmão quase-gêmeo (e a Ca Amatti, o Mateusz e o vô Vitoldo, que mesmo não estando presentes fisicamente, com certeza estavam em espírito) em um café com bolo de banana caseiro feito pela mamma. Foram poucas horas reunidos, pois eu tinha que trabalhar à noite. Mas foi o suficiente para engrandecer meu dia.

Também preciso agradecer pelos primeiros botões de rosa. Por uma certa ligação internacional. Pela visita de minha madrinha e da tia-avó Vanda. Por todas as mensagens  e abraços da família, de amigos e de meus queridos alunos. A vida só vale a pena se é compartilhada.

Acho que talvez essa tenha sido a grande lição do dia: não perder a alegria dos pequenos momentos navegando pelas águas incertas do futuro. No fim, esses instantes do cotidiano são as grandes preciosidades que vamos carregar no peito para sempre.

Seis de setembro sempre me lembra de que é preciso viver o momento de corpo e alma. Todo ano, nessa mesma data, estoura uma nova revolução: uma mistura das alegrias, amores, angústias e sonhos que vou depositando no meu livro da vida.

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Written by Gigi Eco
Gigi Eco ama aprender e faz muitas coisas ao mesmo tempo - é jornalista, fotógrafa, professora, rata de biblioteca e musicista por acidente. Ama viajar e é viciada em chás. É a escritora oficial dos cartões de Natal da família. É Doutora em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e atualmente trabalha no seu primeiro livro de poesias.