Retorno ao Jardim Secreto

Tempo é uma moeda preciosa nos dias de hoje. Ninguém tem sobrando, mas todo mundo quer para gastar navegando na internet. Eu decidi que aproveitaria ao máximo essa uma hora diária com a natureza para me reconectar com a Terra e para me reeducar. Comecei a repetir para mim mesma que sempre precisamos ter tempo para aquilo que realmente importa: para conversar olho no olho com a família e os amigos, para passar tempo com os avós, para cuidar do nosso jardim, para tudo aquilo que nos arrependeremos de não ter feito quando a velhice chegar, para entender nosso propósito de estar aqui nesse planeta azul.

Esse trecho é do texto que escrevi há praticamente um ano: As chaves do Jardim Secreto. Nele, comento sobre minha experiência transformadora de cuidar do jardim de minha casa durante o mês de maio de 2018. Eu nunca fui uma pessoa amante das plantas e, com certeza, ser a guardiã temporária do Jardim Secreto durante um mês no ano passado trouxe mudanças lentas e, ao mesmo tempo, avassaladoras para a minha vida. Pouco tempo depois dessa experiência, trouxe para casa meu bonsai de cerejeira japonesa, a Cerejina e, de certa forma, esse contato com as plantas permanece desde então em minha vida diariamente, mesmo que em pequena escala.

Curiosamente, também no mês de maio desse ano, fiquei novamente responsável pelos cuidados do jardim de minha casa. Dediquei uma hora a uma hora meia do meu dia, durante três semanas, para essas atividades. Foi meu retorno ao Jardim Secreto! Acho que maio será sempre o mês das flores para mim. Como no final dessa semana termina minha missão como guardiã desse recanto mágico, abri os portões desse Jardim encantado para vocês, queridos viajantes, no post dessa semana.

No ano passado, o Jardim me ensinou sobre paciência e comprometimento. Existe algo de muito poderoso, de visceral, no nosso contato direto com a terra. É um reencontro com nossa essência mais primitiva, de seres que buscam se conectar de forma profunda por meio do amor. E se tem algo que aprendi ano passado é que cuidar de um jardim é um ato de amor incondicional, uma doação desinteressada de nosso tempo e de nosso afeto para o planeta Terra.

Pensem em como isso é poderoso: a gente dedica tanto de nosso tempo a esses seres, as plantinhas, mas não vamos ser promovidos ou ganhar mais dinheiro, nem ter mais tempo para maratonar séries e procrastinar nas redes sociais. Não receberemos nenhuma recompensa material por nossas ações. Mas o Jardim nos ensina que isso realmente não importa. Que o mundo está saturado de interesses, egoísmo, materialidade, depressão, carências, solidão. Tem uma hora que a gente precisa silenciar o zumbido do caos tecnológico em que vivemos imersos e simplesmente contemplar o milagre da existência junto da natureza. Só nós e as plantas. Sozinhos com nossos pensamentos, em silêncio e com a mente tranquila, buscando verdades que só encontraremos dentro de nós.

Mesmo tendo refletido sobre essas questões no ano passado, parece que muitas vezes a velocidade alucinante da rotina nos tira do rumo, faz-nos esquecer das coisas importantes, das atividade que, mesmo simples, trazem uma profunda paz de espírito. Talvez nesse momento em que vivemos no piloto automático, entretidos com o blá-blá-blá cotidiano, seja a hora de nos voltar para os ensinamentos do Jardim, de meditar ao som do barulho da água, que escorre pelas folhas, raízes e alimenta as plantas. Esses seres nos lembram de que é preciso abandonar as tecnologias, sair de casa, tomar sol, tocar na terra, contemplar o céu, as flores, os animais. Essa realidade avassaladora que está lá fora, a beleza do cotidiano, irá preencher sua alma com uma alegria profunda de conexão com o universo e com o seu próprio ser. Experimente. O Jardim irá revolucionar a sua vida.

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Written by Gigi Eco
Gigi Eco ama aprender e faz muitas coisas ao mesmo tempo - é jornalista, fotógrafa, professora, rata de biblioteca e musicista por acidente. Ama viajar e é viciada em chás. É a escritora oficial dos cartões de Natal da família. É Doutora em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e atualmente trabalha no seu primeiro livro de poesias.