Em todos os filmes de Woody Allen chega um momento em que me pergunto: por que, por que escolhi Woody Allen? Personagens com longas falas, sempre em conflito interno com suas vidas. Mas sempre me arrependo da dúvida. Woody Allen se preocupa com todos os detalhes do filme: fotografia, luz, trilha sonora, roteiro, diálogos. O diretor busca resolver conflitos existenciais. Allen, apesar de rabugento, é um romântico incurável.
O novo longa do diretor se passa na cidade da Luz. Em ‘Meia-Noite em Paris’ (Midnight in Paris) Owen Wilson é o escritor Gil Pendler. O personagem de Wilson vive de roteiros produzidos para Hollywood. Entretanto, seu verdadeiro sonho é publicar um romance. Gil não tem coragem de mostrar suas 400 páginas já escritas a ninguém. É uma pessoa que vive do passado. Quem melhor do que Gertrude Stein, a conselheira dos artistas, para avaliar o livro de Gil? O escritor se inspira na década de 20 parisiense, quando os escritores da famosa Geração Perdida – Hemingway, Fitzgerald, Pound, Eliot – caminhavam pelas ruas de Paris.
Para o cinema nada é impossível. Nem mesmo uma viagem no tempo. Mas nada de máquinas ou aparatos de ficção científica – Woody Allen utiliza carros da época passada. Gil conhece Zelda e Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Gertrude Stein, Salvador Dalí, Pablo Picasso… O novo filme de Allen é um conto sobre uma das grandes dificuldades humanas: aceitar o presente. Aceitar a vida como ela é, e não como poderia ter sido. E assim Gil Pendler descobre que viver do passado se trata de negação. Ilusão. “A vida é assim insatisfatória”, diz o escritor em ‘Meia-Noite em Paris’. Cabe a cada um encontrar um sentido de existência. Ou simplesmente aceitar o mistério.
Serviço: Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris). 2011/EUA, Espanha. Direção: Woody Allen. Com Owen Wilson, Rachel McAdams, Kurt Fuller, Mimi Kennedy. 100 min.
