Você encontrou um livro que queria muito no sebo, por metade do preço. Tocaram sua música favorita na abertura de um show. Você encontrou por acaso um amigo que não via há tempos quando decidiu tomar um café. Fogos de artifício surgiram na sua janela à noite, apenas para comemorar seu aniversário.

Sabe aquela sensação de que tudo era para você? Inexplicável. Misterioso. Apesar de não estar nos planos, dos objetos e acontecimentos estarem ali sem a sua existência… algo misterioso movimenta as peças. No fim, era para você mesmo. Um presente do universo.

  Foto: Dida Doidão
Recordo-me de uma crônica do escritor espanhol Juan José Millás que li há alguns anos no jornal El País. Na época, tinham sido roubados alguns quadros do Museu do Prado, em Madri, e Millás imaginava que, dado que eram telas tão famosas, só poderiam ser vendidas a alguém que as mantivesse fechadas, que as guardasse apenas para si. Ao mesmo tempo, recordava as manhãs em que ia para o museu logo depois da abertura e em que, durante alguns minutos, ficava sozinho com elas. A crônica terminava com Millás a dizer que, durante esse tempo, ele era o dono daqueles quadros. Durante esse tempo, aquelas telas tinham sido pintadas apenas para ele (José Luis Peixoto, ao falar sobre as obras da pintora Paula Rego em texto publicado na revista Bravo!).

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Written by Gigi Eco
Gigi Eco ama aprender e faz muitas coisas ao mesmo tempo - é jornalista, fotógrafa, professora, rata de biblioteca e musicista por acidente. Ama viajar e é viciada em chás. É a escritora oficial dos cartões de Natal da família. É Doutora em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e atualmente trabalha no seu primeiro livro de poesias.