Madri: a cidade que roubou meu coração

Para muitos leitores não é nenhuma novidade que eu me apaixonei perdidamente por Madri. Tenho expressado meu amor por essa cidade (e também pela Espanha) aos quatro ventos (ou pelo menos nas redes sociais) desde que voltei de viagem. Madri é uma cidade de muita intensidade e tem opções de passeios e atividades para todos os gostos. Mas o que me fez estar em Madri no dia primeiro de janeiro de 2019? Talvez alguns de vocês devem estar se perguntando.

Essa é uma história que eu gosto de contar, porque muitas vezes nós deixamos de participar de um concurso, sorteio ou prêmio porque acreditamos que “é impossível ganhar” ou que “é tudo comprado”. Em outubro do ano passado, eu participei do Concurso Joias Europamundo de fotografias e fui a grande vencedora. O prêmio era um pacote de viagens e aproveitei para escolher viajar para um país que eu sempre tive o sonho de conhecer e que também é terra de meus antepassados: a Espanha.

É muito curioso pensar em como algumas viagens começam bem mais cedo do que imaginamos, como nesse caso. A viagem para a Espanha já estava tomando forma quando eu apertei o botão da máquina fotográfica para congelar uma cidadezinha charmosa em meio à travessia que realizávamos nos fiordes noruegueses. E essa foi a foto vencedora do concurso. Todos esses acontecimentos me lembram de que não podemos ter medo de tentar. Não podemos ter medo da vida.

Foto vencedora do Concurso de fotografias Joias Europamundo: uma cidadezinha charmosa em Sognefjord

Será que se a gente passa a virada do ano viajando, isso significa que será um ano cheio de viagens? Eu fico me perguntando isso de tempos em tempos. Espero que sim. Por isso, lá estava eu e mamma Tatiana em Madri no primeiro dia de um novo ano. Comenzaba la aventura. Chegamos na cidade um pouco antes do meio-dia. O aeroporto de Madri, Barajas, é gigante! Lindo com seu teto de bambu todo curvo e conectado por uma série de clarabóias. Esse é um projeto do Rogers Stirk Harbour + Partners. Me lembrou de Gaudí e de suas inspirações na natureza. Em Barajas, fizemos nossa primeira refeição em terras espanholas: tostadas e huevos rotos com patatas y jamón. Adoramos! Esses pequenos sinais já nos mostravam que a gente ia gostar muito da Espanha.

Como tivemos que passar pela imigração, andar quilômetros para pegar as malas e almoçar, acabamos chegando no hotel por volta das 14 h 30 min. O Hotel Praga fica em um bairro bem simpático, com tijolinhos vermelhos e muitos plátanos alaranjados, lojinhas, bares e cafeterias. Na frente tem uma parada de ônibus, onde você pode pegar um ônibus que te leva em menos de dez minutos para o centro, em uma parada bem próxima da Plaza Mayor.

Saímos do hotel por volta das 16 h 30 minutos, ainda no dia primeiro, para realizar o city tour. Passamos pela área dos museus, admiramos o Palacio de Comunicaciones, a bela Fuente de La Cibeles e a Puerta de Alcalá. Seguimos para o Parque Cuartel de la Montaña, pertinho da Plaza de España. Fomos ver o pôr do sol em um legítimo templo egípcio do século II a. C. que está instalado no Parque: o Templo de Debod. Esse templo foi uma doação do governo egípcio à Espanha para evitar que ele ficasse inundado em sua terra natal, devido à construção da barragem de Assuão.

O céu era de um azul intenso, sem nenhuma nuvem. Estava bastante frio e a luz do sol estava començando a baixar. Os raios de sol batiam nos plátanos deixando-os com uma coloração dourada. Madri exalava um charme de outono, mesmo sendo inverno. Ver essa luz dourada bater no templo me fez perder um pouco o fôlego. Eu estava ao poucos ficando apaixonada e tomei consciência disso.

Templo de Debod e o pôr do sol
A beleza dos plátanos e o ar outonal de Madri

Depois desse pequeno passeio, fomos ao centro explorar mais a cidade. A van nos deixou ao lado da Catedral de La Almudena. Seguimos caminhando. Passamos por um corredor e pelo Palácio Real, que fica de frente para a Catedral. Seguimos mais alguns metros e, à direita, chegamos na charmosa Plaza de Oriente. As pessoas caminhavam felizes, curtindo o primeiro dia do ano. Muitas rodeavam os artistas de rua. As crianças se animavam para andar no carrossel.

A Catedral de la Almudena
Carrossel próximo ao Palácio Real
A Plaza de Oriente e os artistas de rua

Retornamos pelo caminho que havíamos feito e paramos alguns minutos no corredor entre a Catedral e o Palácio Real para ver o pôr do sol. Agora o dourado se transformara em uma tonalidade de um alaranjado intenso, que se perdia no limiar do azul. Parece que o tempo havia parado por alguns instantes para a gente apreciar esse momento. Eu sei que foi ali o instante em que me apaixonei perdidamente por Madri. Aquela intensidade de cores que invadia meu olhos, deixando o Palácio, a Catedral e os postes antigos em meia-penumbra, me fez sentir como se eu caminhasse dentro de um sonho antigo. Foi quando eu descobri sobre a Espanha e sua magia dourada, de longos nasceres e pores do sol e de céus intensamente azuis.

Após esse breve e precioso instante, continuamos a explorar a cidade. Subimos a Calle Mayor, apreciando suas lojinhas, incluindo uma livraria especializada em livros sobre Madri. E paramos no Mercado de San Miguel, um mercado gastronômico que existe há mais de cem anos. É um paraíso para os amantes da boa comida. Ali você encontra de tudo: tapas, vinhos, sangrias, queijos, peixes, comida mexicana, paella, doces, frutas… Terminamos a noite ali, pois tínhamos ainda mais alguns dias para explorar a cidade.

Não podia faltar a foto de uma livraria charmosa!
Um paraíso para os amantes da boa gastronomia

No segundo dia, após um passeio por Toledo, uma charmosa cidade medieval que fica à 70 quilômetro de Madri, tínhamos a tarde e a noite livres na capital espanhola. Fomos na impressionante Plaza Mayor. Conhecemos a bela Catedral de La Almudena. Chegamos à Plaza de España. As estátuas de Dom Quixote e de seu fiel escudeiro Sancho Pança eram a grande atração. Crianças brincavam. Turistas fotogravam. Também bati uma fotografia com eles, prestando minha homenagem à Cervantes e seus personagens, grandes aventureiros. Lembrei do clássico do escritor espanhol e de como na vida tudo depende de como enxergamos as coisas. Podemos ver gigantes. Ou moinhos. Esse olhar único que temos sobre o mundo é um dos nossos grandes tesouros (ou a origem de nossas loucuras).

Gigantes ou moinhos? Depende de como você encara a vida
Os encantos da Plaza Mayor

Caminhamos pela Gran Vía e nos impressionamos com o grande número de teatros e a infinidade de pessoas caminhando pelas ruas, nos bares e cafés, mesmo com as temperaturas congelantes. Terminamos o dia em meios às tapas e vinhos, porque a gastronomia espanhola é uma delícia!

Nos dias seguintes que passamos na capital, aproveitamos para fazer alguns passeios culturais e fomos no Museu do Prado e no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia. Foram visitas impressionantes! No primeiro, pudemos observar obras de grandes mestres da pintura e da escultura, como Velázquez, Goya, Murillo, El Greco e tantos outros. Já o segundo é um dos mais importantes museus de arte moderna espanhola, tendo obras de Miró, Dalí e Picasso. Um dos grandes destaques do Reina Sofia é, sem dúvidas, Guernica, obra de Pablo Picasso que retrata o bombardeio da cidade de Guernica durante a Guerra Civil Espanhola. O quadro é avassalador ao representar a destruição e sofrimento dos civis, mostrando-se como um manifesto contra a violência.

Metrônomo gigante no Museu Reina Sofia: como você administra o seu tempo?

Também aproveitamos para ir na Feira do Rastro, um mercado ao ar livre que acontece aos domingos no bairro de La Latina há mais de 400 anos. É uma feira enorme e ali você encontra de tudo: antiguidades, roupas, bolsas, livros, bússolas, obras de arte… E mesmo com o frio, ela estava lotada, principalmente nas bancas de roupas que estavam em liquidação. Essas feiras são incríveis, porque ali a gente vê um pouco do ritmo da cidade e da vida que pulsa em suas ruas. Fomos também no Parque del Buen Retiro, um grande refúgio com suas muitas árvores, jardins, bancos e fontes, com destaque especial para o estanque, onde famílias e casais se divertiam na água com pequenos barcos.

Feira do Rastro: um grande mercado a céu aberto em Madri
Livros na Feira do Rastro
Parque del Buen Retiro
Diversão de domingo no Parque del Buen Retiro

Por fim, terminei o último dia onde tinha começado minha jornada na capital espanhola: naquele corredor entre a Catedral e o Palácio Real (que é maravilhoso, por sinal, e vale uma visita!), apreciando mais uma vez aquele pôr do sol intenso que fez eu me apaixonar perdidamente por Madri. Foram pouco dias para explorar essa cidade incrível e sei que ainda preciso voltar muitas e muitas vezes. Mas esse é um dos grandes encantos do ato de viajar: deixamos sempre lugares e recônditos em suspenso, ainda a serem explorados, como pistas para novas aventuras que virão.

O impressionante Palácio Real
Um pôr do sol apaixonante nas cercanias do Palácio Real
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Written by Gigi Eco
Gigi Eco ama aprender e faz muitas coisas ao mesmo tempo - é jornalista, fotógrafa, professora, rata de biblioteca e musicista por acidente. Ama viajar e é viciada em chás. É a escritora oficial dos cartões de Natal da família. É Doutora em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e atualmente trabalha no seu primeiro livro de poesias.