Foz do Iguaçu e suas cidades invisíveis

Eu adoro a frase de Pierre Assouline: “Uma vida é como uma cidade: para conhecê-la, é preciso se perder nela”. Muitas vezes precisamos caminhar sem destino, absorvendo o que o rico cotidiano de uma cidade tem a nos oferecer. Assim, perdidos em meio a ruelas e localidades que nos são estranhas, vislumbramos o espírito da cidade e também acabamos encontrando a nós mesmos em meio ao novo que nos rodeia.

Vocês já imaginaram que cada cidade é o cenário de uma infinidade de tramas e amores? Que segredos guardam suas ruas? As cidades são protetoras de nossas histórias, das mais banais às mais importantes e extraordinárias. E além de proteger nossos tesouros, elas próprias guardam seus mistérios em camadas que precisam ser descobertas. A cidade em si, com suas demarcações geográficas, é só uma fachada. Um nome para o conjunto de infinitas cidades invisíveis que se constroem a partir das conexões humanas, dos sonhos e anseios dos homens.

O anfitrião da cidade de Foz do Iguaçu

No livro As cidades invisíveis, de Italo Calvino, Marco Polo conta ao imperador mongol Kublai Khan sobre as inúmeras cidades que conheceu em suas andanças. As histórias do viajante superam qualquer aula ou mapa. Polo fala de regiões maravilhosas, cenas e histórias inacreditáveis. Apesar de cada nova narrativa aparentemente tratar de uma nova cidade, o tempo todo Polo falou de apenas uma única: a sua amada terra natal, Veneza e suas cidadelas invisíveis.

Quando penso nessas protetoras de nossas histórias, sempre lembro de Foz do Iguaçu. Já ouvi cada história emocionante que aconteceu ali, desde um passeio em um barco a remo comandado por um índio que ia até a beiradinha das cataratas, até a aventura de cruzar a fronteira do Paraguai de carona em uma caminhonete. Foz é aquela cidade que sempre rende aventuras incríveis e que tem atrativos para todos os tipos de viajantes.

No último mês, tive a oportunidade de visitá-la mais uma vez. Foi uma viagem extraordinária. Sempre é. Quando algum amigo estrangeiro pergunta sobre o Brasil e o que devia conhecer no país, eu sempre digo: vá para Foz e visite as Cataratas do Iguaçu. A imensidão de quedas d’água do rio Iguaçu sempre me tira o fôlego. Desde criança. Caminhar nas trilhas e passarelas em meio à mata e admirar a força avassaladora das águas me lembra de que o mundo é incrivelmente vasto e que nossos problemas, em sua maior parte, são muito pequenos e irrelevantes perante a grandiosidade da natureza.

A força poderosa das águas do rio Iguaçu

Além disso, sinto-me nessas trilhas encantadas como se estivesse dentro dos filmes da franquia de Jurassic Park. Ao admirar a natureza selvagem da Mata Atlântica, os quatis e macaquinhos, tenho a vívida sensação de que pterodátilos vão surgir a qualquer momento voando no céu desse mundo perdido dos dinossauros.

O Parque Nacional do Iguaçu, onde as Cataratas estão localizadas, é um Patrimônio Mundial Natural. Como as quedas d’água se encontram na fronteira entre Brasil e Argentina, você pode visitar as cataratas pelos dois países. São dois passeios diferentes, mas igualmente maravilhosos. Ir até a Garganta do Diabo, do lado argentino, e observar a força das águas, é impressionante.

Na Garganta do Diabo: as Cataratas do lado da Argentina

Mas Foz tem inúmeros atrativos, para além das Cataratas (que por si só já valem a visita). Há diversas opções de passeios no próprio Parque Nacional, como trilhas para fazer caminhando ou de bicicleta e passeios de barco. É possível também visitar o Parque das Aves e se impressionar com as dezenas de espécies, admirar a gigantesca hidrelétrica de Itaipu, ir até o bar de gelo tomar alguns drinks ou atravessar a fronteira e ir até o Paraguai, divertindo-se nas dezenas de lojas da Ciudad del Este.

As araras no Parque das Aves

Foz, assim como a amada Veneza de Marco Polo, guarda infinitas cidadelas, sutis e escondidas. Aproveite as grandes atrações, mas não deixe que elas te distraiam e o impeçam de ver os pequenos detalhes que eu tanto amo nessa cidade: o encontro de pessoas falando idiomas de diversos cantos do mundo; os quatis e macaquinhos roubando comida dos visitantes nas Cataratas; o mercadinho na Argentina com seus cheiros, sabores e produtos locais; a Confeitaria Jauense e seus doces deliciosos; e tantos outros tesouros. Se prestarmos atenção, as cidades invisíveis se desvelam diante de nossos olhos.

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Written by Gigi Eco
Gigi Eco ama aprender e faz muitas coisas ao mesmo tempo - é jornalista, fotógrafa, professora, rata de biblioteca e musicista por acidente. Ama viajar e é viciada em chás. É a escritora oficial dos cartões de Natal da família. É Doutora em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e atualmente trabalha no seu primeiro livro de poesias.