Sobre sabedoria (e como errar na vida é importante)
(…) Bem sei que há jovens, filhos e netos de homens distintos, com preceptores que lhes ensinam nobreza d’alma e elegância moral desde os bancos escolares. Talvez nada se tenha a dizer da sua vida, talvez possam publicar e assinar tudo quanto disseram, mas são pobres almas, descendentes sem força de gente doutrinária, e de uma sabedoria negativa e estéril. A sabedoria não se transmite, é preciso que a gente mesmo a descubra depois de uma caminhada que ninguém pode fazer em nosso lugar, e que ninguém nos pode evitar, porque a sabedoria é uma maneira de ver as coisas. As vidas que o senhor admira, essas atitudes lhe parecem nobres, não as arranjaram o pai de família ou o preceptor; começaram de modo muito diverso; sofreram a influência do que tinham em torno, de bom ou frívolo. Representam um combate e uma vitória. Compreendo que não mais reconheçamos a imagem do que fomos num primeiro período da vida e que nos seja desagradável. Mas não há que renegá-la, porque é um testemunho de que temos vivido de acordo com as leis da vida e do espírito e que dos elementos comuns da vida – da vida dos ateliês, dos grupinhos artísticos, se se trata de um pintor – tiramos alguma coisa de superior a tudo isso.
Marcel Proust
À sombra das raparigas em flor