Nesses tempos, dentro de tudo o que estou vivendo nas diversas esferas de minha vida, peguei-me pensando em uma frase de O Pequeno Príncipe: “As pessoas são solitárias porque constroem muros aos invés de pontes”. Será que o criador do Principezinho na época previa esses tempos velozes e solitários que vivemos em meios a incessantes (e às vezes insuportáveis e tediosas) mensagens das redes sociais?
As obras consideradas clássicas assim o são porque têm essa característica de universalidade. A gente consegue aplicar seus ensinamentos em todas as épocas do mundo e em diversas fases de nossa vida, porque os preceitos contidos nessas obras tratam dos sonhos, utopias e angústias da humanidade. Apesar do livro de Antoine de Saint-Exupéry ter sido publicado em 1943, acho que essa frase sobre muros e pontes talvez seja até mais atual do que no momento em que foi escrita.
Observem o paradoxo: nunca antes o homem se sentiu tão solitário, apesar de viver simultaneamente conectado com o mundo por meio da internet. Nunca antes se teve acesso tão irrestrito ao cotidiano dos outros e a todas as suas banalidades. Nunca antes compartilhamos tanto de nossas vidas privadas e nos sentimos tão sozinhos.
Sei que soa pessimista (ainda mais na época do Natal), mas hoje nos transformamos em construtores de muros (físicos e emocionais) e destruidores de pontes. Os amigos não saem mais juntos porque cada um se habituou a não tolerar nada fora do que quer. E, se um convite de confraternização não agrada, sempre temos o Netflix e as redes sociais para matar literalmente o tempo. Para estarmos conectados com o mundo, mas solitários dentro dos muros que construímos para nos proteger de nossos próprios medos.
C’est la vie.
Paradoxos contemporâneos.
Quando o Muro de Berlim começou a ser construído em agosto de 1961, a cidade refletia a polarização em que o mundo vivia. Quando ficou oficialmente pronto, ele tinha 66,5 quilômetros de extensão, 302 torres de observação e 127 redes metálicas eletrificadas. Os militares da Alemanha Oriental tinham ordem para atirar nas pessoas que tentassem atravessar sem autorização o muro. Além disso, essa barreira física também aconteceu de forma intensamente emocional e psicológica, pois amigos e familiares que moravam distantes foram divididos pelo muro e passaram décadas sem se encontrar.
São tão emblemáticas as cenas da própria população destruindo o muro em 1989… Deve ser porque todos nós ansiamos por liberdade. E porque no fundo todos nós sabemos que o mundo não precisa de mais muros, e sim de pontes, como já dizia o Pequeno Príncipe sabiamente.
Com a época das festas de fim de ano se aproximando, nossos corações ficam mais leves e a gente tende a fazer um balanço do que foi positivo no ano que passou, do que precisamos melhorar e do que ansiamos por conquistar.
Escrevi esse texto com um propósito de desafio para mim mesma. E para você também, caro leitor, se você também se sente angustiado com os muros de Berlim cotidianos que construímos e são construídos ao nosso redor ao longo da vida.
Que a gente se comprometa agora mesmo (você achou que eu ia dizer no Ano Novo, né?) a direcionar nossas energias para construir pontes e destruir muros. A focalizar nosso olhar no outro sempre com empatia e amor. A se inspirar na Raposa, que lembra o Principezinho de uma ação muito esquecida, o “cativar”.
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, diz ela.
Que nesse Natal e no novo ano que se aproxima a gente resgate essa verdade que, como diz a Raposa, foi esquecida pelos homens. Que a gente assuma nossa responsabilidade no fortalecimento de laços e de amizades. E que a gente construa sempre mais pontes, aproximando os corações dos homens.