Sobre aeroportos
O único problema era que eu não sabia que precisava pegar a minha mala antes de sair. Então imaginem que ao encontrá-lo eu estava mais do que feliz por tudo ter dado certo, mas ele ficou muito preocupado porque não viu nenhuma mala. Ele perguntou algo como: “mas você não pegou a sua mala?” E eu respondi surpresa: “Mas eu não deveria pegar ela agora?” Até hoje não sei como conseguimos entrar novamente na área da retirada das bagagens para resgatar a minha mala, mas deu tudo certo no final. Pois é, quem me vê viajar hoje não imagina que já passei por alguns fiascos desse tipo, entre outros… Eu lembro nitidamente de como essa primeira viagem foi fascinante para mim. O avião acelerando antes de levantar voo e as vistas magníficas lá de cima. Lembro de que em algum momento do voo eu me perguntei se aquilo tudo era real, pois era tão fascinante, que achava difícil de acreditar.
Eu nunca imaginei que depois daquela primeira viagem haveria tantas outras. É verdade que eu me apaixonei imediatamente pela Itália e por muitos anos nutri o sonho de ir viver lá, mandando todos os meus pertences de mudança em um contêiner a ser retirado em Gênova. Estava tudo planejado e tudo seria lindo. Mas esse sonho acabou dando lugar a outros. E quando eu me deparei com a possibilidade de mudança para a Polônia, uma mudança concreta e real, o sentimento foi completamente diferente. Eu já não queria levar tantas coisas e acabei deixando ou me desfazendo de muitos pertences, incluindo um piano. O limite de bagagem está sempre diminuindo e para despachar é caro e leva muito tempo…
E então vivendo fora agora, as viagens se tornaram relativamente frequentes, mas adquiriram um novo significado. Antes me sentia um pouco como uma exploradora – minha parte favorita era a decolagem, aquela sensação da aventura que estava por vir. Buscava sempre sentar na janela para ter as melhores vistas, me emocionava com as turbulências! (Eu sei, eu era meio louca…) Hoje, meu coração anseia mesmo é pelo momento do pouso. É verdade que se passaram alguns anos e aquela coragem do início às vezes dá lugar a um medinho lá em cima quando o avião está um pouco instável. Hoje já procuro sentar no corredor, pois é mais confortável e posso levantar quando quiser sem incomodar ninguém. Se antes viajava para conhecer os lugares, hoje as melhores viagens são aquelas para reencontrar, matar as saudades, agradecer às raízes. Para chegar ao aeroporto do destino e ver aqueles sorrisos tão familiares – o brilho nos olhos.
Para Marc Augé, os aeroportos compõem parte da experiência da supermodernidade, são o que ele denominou de não-lugares: lugares impessoais, de passagem, lugares em que, embora o indivíduo precise o tempo todo comprovar a sua identidade, ele não passa de mais um dentro de um complexo sistema de fluxos, procedimentos e controles. De certa forma, tudo isso não deixa de ser um pouco verdade. Mas eu acabo vendo os aeroportos como grandes portais que nos levam para qualquer lugar, como se fossem uma versão ainda primitiva da futura máquina de teletransporte. Para mim, acabaram se tornando lugares muito nostálgicos. Quando volto para um deles, sempre relembro do que já passei ali – dos reencontros, despedidas, sonhos, aventuras, olhares brilhantes e malas perdidas…
E você, qual o seu sentimento em relação aos aeroportos?
Ca, que texto lindo! Me emocionei bastante. Você me fiz rir com a história da mala perdida e também sorri ao perceber como a nossa percepção sobre a vida muda ao longo do tempo, como é o caso do próprio ato de viajar. As viagens sempre expandem o nossos olhar sobre o mundo e sobre nós mesmos. Enquanto lia o texto, tive alguns flashes das tantas viagens que fizemos, do momento em que fomos juntas para Itália e criamos nossos codinomes viajantes no aeroporto de Guarulhos a revoltas em pequenas cidadezinhas polonesas. Foi maravilhoso compartilhar com você todas essas experiências, das pequenas às grandes jornadas. Obrigada por esse texto incrível e por ser minha companheira de tantas aventuras (passadas e futuras)!
Gigi querida, é mesmo muito emocionante de lembrar de tudo. De quando viajamos com os padres, de quando a sua mala não chegou em Roma, de quando mandamos recados uma para a outra pelos aeromoços, pois estávamos sentadas separadas… São muitas histórias!! Onde será nossa próxima aventura?
Ca, essas lembranças são tão preciosas! Sobre nossa próxima viagem, pensei nisso: alguns falam… “Winter is coming”. Mas eu só posso dizer: “Polska is coming”! hahaha 😉
Ahahah… adorei “Polska is coming”, parece até o título de um álbum 🙂
Amei o texto, Cami! Durante minha jornada da vida, já experimentei muitos sentimentos em relação aos aeroportos. Da emoção da primeira vez, do medo de voar e da ansiedade antes do embarque. Gosto de ver pessoas de diferentes lugares, falando línguas diferentes da minha. Gosto daquelas surpresas da vida quando encontramos alguém que conhecemos e que nunca imaginaríamos encontrar em um aeroporto de outro continente. Hoje compartilho com você a ideia dos aeroportos como portais. Desde que você foi morar em Varsóvia, nos aeroportos nos despedimos e nos reeencontramos de tempos em tempos. Sorrimos e choramos, ansiando pelo próximo reencontro, com a sensação de que o tempo passa mais rápido do que nunca.
Obrigada, mamã! É verdade, essa sensação de ver pessoas falando línguas diferentes ou de encontrar pessoas conhecidas do outro lado do mundo, assim como a possibilidade de se mover tão rapidamente dão esse sentimento de que afinal o mundo não é tão grande e intransponível. Que bom que logo vamos nos encontrar de novo 😀
Mój pierwszy lot samolotem to była podróż do Brazylii – pierwszy lot i od razu tak daleki i tak bardzo ważny bo jechaliśmy do Ciebie i do Twojej rodziny. Wszystko razem było ekscytujące i bardzo stresujące. Duża mieszanka uczuć i emocji:) Gdybyśmy nie mieli Waszej pomocy w podróży – Twojej i Matiego to byłoby ciężko…Być może pogubilibyśmy się gdzieś na tych ogromnych lotniskach:) Ale jedno wiem, świat jest piękny i wcale nie taki duży. Chociaż każdy z nas ma swoją “małą ojczyznę” to warto poznać i zobaczyć inne zakątki na tej ziemi.
Podróż nie zawsze jest idealna. Czasem jest męcząca i mało komfortowa. Ale każda podróż pozostawia ślady w naszej pamięci, w świadomości i w sercu.
Z każdej zabieramy coś ze sobą i mamy nadzieję, że zostawiamy coś dobrego za sobą…
Faktycznie, podróży samolotem nie zawsze jest wygodna i często jest również trochę stresująca. Ale poczucie, że świat jest małe i piękne jest mocniejsze i zainspiruje nam, aby iść dalej. Najcenniejsze jest ta wymiana, o której powiedziałaś: nasze wspomnienia i ślady, które zostawiamy za sobą 🙂 Świat jest piękne!