Que as crianças invadam o teatro

Meu filho não vai ouvir Mozart em casa. Com certeza vou levá-lo aos concertos antes dos quatro anos de idade. Hoje a Orquestra Sinfônica do Paraná apresentou-se no Teatro Guaíra, em Curitiba, com a participação do pianista polonês Piotr Banasik como solista convidado. O maestro John Neschling interrompeu a execução do Concerto nº 1 para piano, de Franz Liszt, para chamar a atenção de uma criança ‘barulhenta’. Neschling afirmou que não conseguia se concentrar. De acordo com o maestro, crianças abaixo de quatro anos não deviam assistir aos concertos e os pais deviam educá-las em casa, fazê-las escutar música clássica em cds, levá-las a concertos especiais, direcionados para o público infantil.

A questão é – se crianças não devem assistir a concertos, porque não avisar aos pais logo na entrada do teatro? Assim, eles não passariam pelo constrangimento de uma plateia inteira aplaudindo a fala do maestro. A situação é um grande (des)incentivo para que o público infantil se interesse por música clássica…  Educá-las em casa, ouvindo cds? É muito mais emocionante presenciar a apresentação de uma orquestra ao vivo e a cores.

Eu concordo que deve existir certo protocolo nos concertos. Toques de celulares, choros incessantes de crianças de fato atrapalham o andamento da apresentação. Entretanto, na situação de hoje a criança não fazia barulhos tão exagerados como o maestro apontou. Acredito que todo artista que sobe em um palco deve se preparar para imprevistos – luzes, crianças, plateia, animais. Estamos falando de teatro. O cenário é real. A ‘quarta parede’ não existe como na televisão. O público está ali, em contato direto com a orquestra. E cada apresentação nunca é igual. Imprevisibilidade.

Pessoas não são máquinas. Não se pode exigir um silêncio absoluto do público. E o artista que não aceita isso, devia mudar de meio. Migrar para a televisão. Ou para a rádio. Ou apenas gravar álbuns em estúdio.

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Written by Gigi Eco
Gigi Eco ama aprender e faz muitas coisas ao mesmo tempo - é jornalista, fotógrafa, professora, rata de biblioteca e musicista por acidente. Ama viajar e é viciada em chás. É a escritora oficial dos cartões de Natal da família. É Doutora em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e atualmente trabalha no seu primeiro livro de poesias.