Poetas da Idade Mídia

Na nossa família não é novidade que nós gostamos muito de ler. (Alguns até dizem que a gente lê demais!) Teve um ano que eu decidi me dedicar à leitura de poesia. Naquela época fiz uma seleção eclética, autores brasileiros e estrangeiros, antigos e novos. Foi quando descobri um dos livros que me marcaram muito – Folhas de Relva, de Walt Whitman. Eu lembro como fiquei estarrecida com a sua contemporaneidade. Às vezes eu tinha a sensação de que era como se um amigo de longa data estivesse sentado conversando ao meu lado.

Sim, a poesia é poderosa. Ela condensa ao essencial as palavras, de forma que o seu poder é amplificado. Acho que é por isso que a poesia também requer um tempo próprio para a sua leitura. Não é como a prosa que você segue até o próximo capítulo. A poesia é cheia de pausas, de silêncios que são uma deixa para o leitor fazê-la ressoar em si.

Desde esse meu pequeno projeto de leitura, eu fiquei com uma pergunta na minha cabeça: onde estão os poetas dos nossos tempos? Será que se eu visse um deles na rua eu conseguiria reconhecê-lo? Será que eles sofrem com a tecnologia e os seus efeitos nas relações humanas?

Mas o tempo passou e eu acabei me dedicando a outras leituras e confesso que me distanciei um pouco da poesia. Depois disso, também me mudei novamente para a Polônia e acabei trazendo poucos livros comigo, pois livros são pesados e não tinha muito espaço na mala. Eu tinha me esquecido do quanto eu sentia falta do português estando imersa em outro idioma! É por isso que quando Gigi me pergunta o que eu quero do Brasil, eu respondo “livros”, sem hesitar.

Desses livros que Gigi me enviou, os que mais me emocionaram foram aqueles de poesia – Ilustre Poesia, de Eu me chamo Antônio, de Pedro Gabriel e Notas sobre ela, de Zack Magiezi. A leitura foi uma experiência arrebatadora – de ressonância. Lendo Ilustre Poesia pude encontrar meus próprios sentimentos expressos em palavras e desenhos ali: a saudade, o silêncio, o amor pelo céu e pelo mar, a pequenez diante das incertezas da vida, e a nossa força quando confiamos na imaginação.

Em Notas sobre ela, confesso que até tive que parar a leitura quando estava no avião, pois senti que as lágrimas estavam chegando, tão forte pude me reconhecer nessas notas… O poeta sabia até mesmo da minha obsessão pela noite estrelada do Vincent. Acho esse poder incrível! Essa capacidade da poesia ressoar em nós, e que nos abraça por sabermos que não estamos sozinhos.

E então eu descobri que os poetas do nosso tempo estão entre nós, que eles estão nas redes sociais, publicam fotos e poemas no instagram. E eu fiquei fascinada! No fundo eu tinha uma idéia errada, de que o poeta é essa pessoa reclusa e pouco ligada à tecnologia. Mas na verdade o poeta está completamente ligado à vida. Trata-se de abraçar a nossa realidade em todos os seus aspectos, incorporá-la, de modo que possa ampliar a nossa voz.

Se você quer conhecer esses poetas e outros que estão na nossa lista de leitura, busque por:
@eumechamoantonio
@zackmagiezi
@akapoeta 
@podeluaoficial
@rupikaur

E se você conhece outros poetas, não deixe de compartilhar aqui com a gente!

Notas sobre ela, Zack Magiezi. (*Check the translation in the end of the post.)

“A saudade é sempre dos detalhes
Que estão escondidos em um dia comum”

“Longing is always about the details
That are hidden in an ordinary day”

Ilustre Poesia, Eu me chamo Antônio, Pedro Gabriel. (**Check the translation in the end of the post.)

“É preciso mudar a nossa forma de enxergar o mundo. […] Precisamos dos olhos da poesia. Precisamos mais do que nunca dos poetas. […] São eles que conseguem unir os versos necessários para despertar o universo adormecido dentro de nós.”
“We must change the way we see the world. […] We need the poetry’s eyes. We need poets more than ever. […] Only they can unite the verses necessary to awaken the sleeping universe inside us.”

Poets of the Media Age

It is nothing new to our family that we love reading. (Some would say we read too much!) There was a year I decided to dedicate myself to poetry. At that time I made an eclectic selection including Brazilian and foreign authors, old and new poets. That was when I discovered a book that marked me a lot – Leaves of Grass, by Walt Whitman. I remember how I felt amazed with its contemporaneity. Sometimes I had the feeling that it was as a longtime friend was sitting and talking close to me.

Yes, poetry is powerful. It condenses the words to the essential in a way that their power is amplified. I think that this is the reason why poetry also requires its own time to be read. It is not like prose that you follow till the next chapter. Poetry is full of pauses, of silences that encourage the reader to get immersed in it.

Since this small reading project I had a question in my mind: where are the poets of our time? Would I recognize them, if I see one of them on the street? Do they suffer from technology and its effects on human relationships?

But time passed and I ended up dedicating myself to other readings and I must confess I became a bit distant from poetry. After that, I moved back to Poland and brought very few books with me. After all, books are heavy and I did not have much space in the suitcase. I forgot how much I miss Portuguese being immersed in another language! That is the reason why I always answer “books” without hesitating when Gigi asks me what I would like from Brazil.

From the books that Gigi sent me the ones that moved me the most were those of poetry – Ilustre Poesia (Illustrious Poetry), from Eu me chamo Antônio, by Pedro Gabriel and Notas sobre ela (Notes about her), by Zack Magiezi. Reading them was a ravishing experience – of resonance. Reading Ilustre Poesia I could see my own feelings expressed in words and drawings: longing, silence, love for the sky and the sea, our littleness in front of life’s uncertainties, our strength when we trust in our imagination.

In Notas sobre ela, I confess that I had to stop reading it while I was on the plane, because I felt the tears coming to my eyes, so strongly I could recognize me in these notes… The poet knew even about my obsession with Vincent’s starry night. I think this is an incredible power! How poetry can embrace us with this feeling that we are not alone.

Then I discovered that the poets of our times are among us, that they are in the social networks and publish photos and poems on instagram. I was fascinated! I had a misconception. I thought a poet was this kind of person who lives in reclusion with little contact with technology. But in fact, the poet is fully and completely connected with life. It is about embracing our reality in all its aspects, incorporating it, so that it can enlarge and amplify our voice.

If you would like to see more about these poets and others that are in our reading list, check:
@eumechamoantonio
@zackmagiezi
@akapoeta 
@podeluaoficial
@rupikaur

And if you know others, please do not forget to share here with us!

*Notas sobre ela, Zack Magiezi. 

She doesn’t remember when her passion for travelling began
Maybe it is an adorable virus
That makes your body have a need for new places
For stretching the vision
For seeing new faces of nature and people
For feeling the sea and mountain breeze
When she is on the road
The whole world becomes landscape
Everything assumes its own beauty
And when she goes back to the routine
She is bigger
Richer despite the expenses
More human
More infinite
Until the virus manifests itself again
And the desire to be in movement be unbearable
There is no cure

**Ilustre Poesia, Eu me chamo Antônio, Pedro Gabriel.

If longing arrives 
the best defence is to embrace it

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Written by Ca Amatti
Ca Amatti é arquiteta restauradora, apaixonada pelos edifícios antigos, por viagens e artes gráficas. Tem saudades do futuro, mas ama os vestígios do tempo no mundo. Atualmente reside em Varsóvia, protegendo velhos palácios e monumentos dos efeitos devastadores do tempo e do esquecimento.