Olhando para o céu por entre os galhos das árvores

Havia um caminho na floresta. Era um longo e silencioso caminho encantado. Mas poucos passavam por ali. As árvores eram especiais. Pareciam confabular com o vento quando alguém caminhava pela floresta. Ali, o barulho das folhas lembrava sussurros… imóveis vigiavam os viajantes. Esses, porém, não percebiam que eram observados. Apenas caminhavam, sem trocarem palavras.

Havia flores nesse caminho, delicadas flores na primavera. Nesses dias, andar sobre a relva do caminho era como dar passos sobre as nuvens. A vida parecia mais leve. E parecia haver um sorriso solto no ar

Logo, com o tempo, as tardes ficavam ainda mais aconchegantes. Embora o sol brilhasse com seus mais claros raios, lá embaixo, à sombra das árvores, os viajantes se sentiam bem. E por entre o verde, voavam borboletas. Assim como voavam, naquela época, os sonhos de seus corações.

Passavam os dias… e, às vezes, vinham almas doces e apaixonadas ao caminho da floresta. Em alguns momentos, corriam e se escondiam atrás dos troncos e, entre as fugas, seus olhares se encontravam. Deitados no chão da floresta, olhavam para o céu por entre os galhos das árvores. E, perdidos em meio ao verde das folhas, viam o azul mais tocante. Só eles sabiam para onde as nuvens estavam indo, assim como só eles sabiam para onde haviam voado os antigos sonhos.

Talvez essas almas sonhadoras voltassem um dia à floresta para ver as luzes douradas do outono. Para ver as folhas caindo suavemente no caminho. Então, talvez deitassem sobre esse tapete mágico para olhar o céu mais uma vez.

Eram sempre singelos os dias de outono. O farfalhar das árvores trazia à memória o eco de canções de felicidade. Alguns diziam que eram canções amargas, pois falavam de uma felicidade perdida. Na verdade, seus corações é que eram amargos e cheios de melancolia. Não percebiam que seus caminhos eram feitos de mudanças, assim como o caminho da floresta, que mudava com as estações. A felicidade estava ali, mesmo que escondida sob a terra.

E nas noites frias que vieram depois, abaixo do vasto e estrelado céu, abaixo das copas das árvores, passavam viajantes solitários. Sem medo dos mistérios, sem medo dos segredos da floresta. No entanto, seus olhos eram tristes e distantes, como se os sonhos já não existissem mais. Talvez sentissem saudades…

Mas chegaria uma manhã em que haveria flores nesse caminho, delicadas flores. E outros sonhos para sonhar. E em cada lembrança estaria todo o sofrimento esquecido. E os viajantes que resistiram às mudanças saberão, na verdade, que o caminho não terá fim.

Passam os dias, passam os viajantes, passam as estações… mas ainda há na floresta um caminho encantado.

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Written by Ca Amatti
Ca Amatti é arquiteta restauradora, apaixonada pelos edifícios antigos, por viagens e artes gráficas. Tem saudades do futuro, mas ama os vestígios do tempo no mundo. Atualmente reside em Varsóvia, protegendo velhos palácios e monumentos dos efeitos devastadores do tempo e do esquecimento.