Let’s steal a book?

Hoje é dia de estreia do filme A menina que roubava livros aqui no Brasil. Para comemorar a data, segue uma resenha que fiz do livro, em que foi baseado o filme. Ainda não vi o filme, mas quando assistir, posto uma resenha aqui no blog!



Palavras vivas: uma ladra de livros, um acordeão e um judeu no porão

Uma história extraordinária. Assim a Morte inicia o conto da menina roubadora de livros. Algumas pessoas vivem tão intensamente que encontram sem medo a narradora encapuzada. E conseguem fugir para novas aventuras. O romance de Markus Zusak, A Menina que Roubava Livros, se passa entre os anos de 1939 e 1943. Hitler era o grande maestro da Segunda Guerra Mundial. Conquistava multidões com a melodia das palavras.
Enquanto a vida na Alemanha seguia regras da ideologia nazista, Liesel Meminger considerava outros princípios. As músicas do velho acordeão de seu pai. O cheiro de cigarros e tinta. A emoção de roubar de livros.
A Morte conta a história de Liesel a partir de sensações. As cores do céu. A neve em Stalingrado. O Danúbio Azul: música preferida de um judeu morto. A delícia de roubar frutas. O medo da guerra. O calor de confidências no porão.
Como se sabe o que está vivo? Depende da importância que se dá aos objetos. Hans Hubermann, pai da roubadora de livros, transformava o acordeão em um ser vivo. Max Vandenburg, o judeu escondido no porão, fazia dos sonhos imagens vivas. Rudy Steiner, melhor amigo de Liesel, vencia olimpíadas imaginárias. Cada um carregava as próprias verdades.
poder das palavras é o fio condutor da história. Para os nazistas, leituras proibidas eram combustível para a fogueira. Para uma garota, palavras salvam a vida. A trajetória da personagem principal – uma menina alemã de nove anos de idade – é sempre acompanhada de sua relação com os livros.
Liesel realiza seu primeiro furto no sepultamento de seu irmão. Ela ainda não sabia ler. As palavras apenas representavam um dia de sua vida. A garota aprende a ler com o pai. Escreve palavras desconhecidas na parede do porão. Frequenta a biblioteca do prefeito. Rouba mais alguns livros. Conta histórias no abrigo antiaéreo. Escreve sobre a própria vida.
As palavras constituem um universo particular. Possuem densidade, momentos específicos de uso. Liesel passou a conhecer tantas palavras que tinha dificuldade em escolher a certa. A roubadora de livros mergulhava no universo das palavras: era a atração irrefreável pelas páginas, as quais resultavam em histórias. Os livros faziam parte de seu mundo, misturando ficção e realidade.
Todos os acontecimentos resultam das palavras. Elas constroem imagens e mantêm viva a memória do mundo. E com elas, a história da roubadora de livros alcança os leitores curiosos, ávidos por um bom romance.

PS: Esse texto ficou entre as dez resenhas finalistas do concurso de resenhas Veja Meus Livros, em agosto de 2010, e foi originalmente publicado na página: http://veja.abril.com.br/blog/meus-livros/resenhas-finalistas/giovana-montes-celinski/. 
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Written by Gigi Eco
Gigi Eco ama aprender e faz muitas coisas ao mesmo tempo - é jornalista, fotógrafa, professora, rata de biblioteca e musicista por acidente. Ama viajar e é viciada em chás. É a escritora oficial dos cartões de Natal da família. É Doutora em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e atualmente trabalha no seu primeiro livro de poesias.