Esse post era para começar de uma forma muito mais fedorenta. Juro que minha primeira frase seria: “Tudo começou com o cocô boiando”. Mas concluí que não seria muito agradável começar um texto falando de cara sobre cocô, já que o motivo desse post é falar do dia de hoje (e, consequentemente, do dia de amanhã) – meu último dia com 22 anos de idade.
Cocô porque? – você se pergunta. Bom, senta que lá vem história.
Terça-feira. 03 de setembro de 2013. Eu, prestes a sair de casa, dou descarga. E a água do vaso não vai para o lugar certo. Ela vai para o chão. Do banheiro todo. Inuuuuuuuundação, Santo Jesus Cristo. Minha vida passou em câmera lenta e realizei mais movimentos velozes do que qualquer protagonista de filme de ação. Foi uma sequência louca de liga desesperadamente para mãe. Fecha registro. Tenta com o rodo escoar a água pelo ralo. Compra panos no mercado (sim, eu não tinha panos de limpeza suficientes e admito, RÁ!) Limpa a sujeirada. Espera irmã mais velha (quem sabe mais experiente para solucionar problemas domésticos). Juntas, a dupla descobre: entupimento e válvula do tanque estragada. Banheiro interditado.
Como esse episódio leva ao lindo dia de amanhã?
Sabem, essa inundação foi um pequeno problema. Um probleminha, se comparado a todo esse ano que passou.
Um ano atrás… eu era muito mais medrosa. Eu detestava Curitiba. Era meu primeiro ano fora de casa e eu não conseguia dizer que morava em Curitiba. É como se eu estivesse de passagem. Eu não conhecia Proust. Eu não acreditava em mim. Eu não fazia terapia. Eu não falava com a minha irmã. Estávamos ilhadas. Cada uma em uma Alemanha, separadas por um silencioso muro de Berlim. Meu cachorro de infância ainda estava vivo. Velhinho, mas firme e forte. Eu não estudava mais piano (e ainda não estudo, só arranho). Eu achava que no fim acabaria atrás de uma mesa de escritório fazendo relatório chatos (não sei porque, nada contra quem faz isso, só acho que não me faria feliz).
Estava no breu. E isso me paralisava. Uma sensação avassaladora – eu não tinha a mínima ideia. Nenhuma certeza. Nadinha. O mundo me engolia. Eu era apenas areia da grande ampulheta do tempo.
Mas hoje eu penso que faria tudo de novo. Enlouqueceria de novo. Choraria de novo em noites insones. Porque – “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. É clichê, mas é verdade. Às vezes você precisa ver um cocô boiando para abraçar as grandes imperfeições e obstáculos da vida. A gente só cresce assim. Enfrentando desafios. Aceitando o breu. Amando a certeza de que o futuro é um mistério dos mais misteriosos. Inimagináveis. Gosto de pensar assim – a vida é um livro, com muitas páginas a serem preenchidas. Como você quiser. Como você sonhar.
Share:
Written by Gigi Eco
Gigi Eco ama aprender e faz muitas coisas ao mesmo tempo - é jornalista, fotógrafa, professora, rata de biblioteca e musicista por acidente. Ama viajar e é viciada em chás. É a escritora oficial dos cartões de Natal da família. É Doutora em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e atualmente trabalha no seu primeiro livro de poesias.