2020 foi o ano de encarar a vida nos olhos
Em um ano tão atípico, nossos corações foram testados. Pessoas queridas partiram. Nossas rotinas foram completamente transformadas. Planos foram desfeitos. Nós tivemos que nos reinventar. O futuro nos assombra como um enredo de um filme de ficção científica catastrófico que ultrapassou as telas e virou realidade.
Entretanto, em meio a tantas perdas e desafios, há uma certeza: permanecemos. Em cada sorriso que, mesmo escondido pelas máscaras, os olhos revelam. Em cada cuidado que temos com o outro. Em cada palavra de afeto. Em cada momento compartilhado, seja presencial ou virtual. Permanecemos nos sonhos, nas nossas lutas diárias, nas memórias que levam aconchego para o coração de alguém.
Em meio a tanto medo, há uma certeza: a vida pulsa aqui dentro de nós.
2020 foi o ano do inesperado. A gente sentiu na pele o que começamos a aprender em janeiro na nossa expedição pela Patagônia, nos confins do sul do mundo: não temos controle de nada. De repente, o vento pode mudar. Você pode ficar preso por horas na Ilha do Fogo até conseguir atravessar o Estreito de Magalhães rumo ao continente. Em poucas semanas, o que acontece em uma cidade longínqua da China pode afetar todo o mundo.
Como seres históricos do seu próprio tempo, a gente precisa respirar fundo e enfrentar a tormenta. É o que todos nós temos feito mês após mês nesse ano tão maluco. 2020 nos fez olhar para o que é mais essencial em nossas vidas e que a gente tinha como certo: um sorriso, um abraço, um beijo, um aperto de mão. Quem iria imaginar que sentiríamos tanta falta de dar um abraço apertado em nossos familiares e amigos queridos?
2020 foi tempo de intensidades. Assim como centenas de famílias em todo o mundo, perdemos pessoas amadas. O coronavírus levou um tio querido e deixou um vazio imenso em nossos corações. Lembrei-me do último filme que lhe emprestei, o italiano A Grande Beleza, que fala sobre os grandes momentos de beleza escondidos no caos da rotina. No filme, a freira centenária nos recorda de que as nossas raízes nos fazem sobreviver. Elas trazem um senso de pertencimento que nos é vital.
Se 2020 nos ensinou algo, é que é tempo de olhar para dentro, para nossa história e sonhos. Precisamos contemplar os pequenos e grandes milagres da vida, como o contínuo ato de inspirar e expirar. Como a presença das pessoas que amamos. A gente não sabe quando é nossa data de partida. Nem quando perderemos nossos entes queridos. Até o direito a uma despedida nos foi negado nesse cenário pandêmico: aquele momento doloroso e necessário em que o último suspiro acontece junto de quem se ama, onde a gente diz tudo o que precisa, onde se admite a verdade que existe por baixo da dureza da rotina. Há e sempre houve amor.
Nós nos despedimos de 2020, com o coração apertado, mas ao mesmo tempo, mais corajosos. Aprendemos a nos adaptar aos tempos de tormenta. Que a resiliência desses dias nos inspire para o futuro. Que seja o início de um ciclo de leveza e empatia. Obrigada por nos acompanhar nesse ano tão distópico, viajantes! Desejamos que 2021 venha com jornadas emocionantes pela nossa casa, pelo bairro, pela cidade e até pelo mundo. Que sejam, antes de mais nada, caminhos em que a gente exercite o estado de presença. E de escuta.
Sem palavras, Gigi. Muitas emoções vieram a tona ao ler o texto!
Mamma amada, foi um ano de muitas emoções. Fico muito feliz de ter passamos por toda essa distopia juntas, prontas agora para um novo ano de leveza e alegrias.