Sonho de infância

Levei para passear
aquela criança
que eu era,
que olhava para cima
durante a missa
e que sonhava
com os mistérios
da cúpula da Catedral.
Existem alguns sonhos
infantis malucos
que a gente não faz ideia
que um dia
vão se realizar.
E lá estava eu, adulta,
admirando as escadarias
distantes
que levam até a cúpula do templo,
enquanto meu eu criança
vibrava dentro de mim.
Fomos juntas,
a criança e a adulta,
subir algumas centenas
de degraus.
Fomos juntas
realizar um sonho antigo.
É de uma beleza arrepiante
caminhar
pelas escadarias da cúpula
rodeada pelos vitrais coloridos.
Nos lembra do quão mística
e maravilhosa e intensa
a vida é
quando a gente acredita
e vislumbra sua potência.
O extraordinário está ali
escondido no cotidiano,
num lugar que você conhece
desde sempre.
E a coragem
para subir as escadarias?
A cada degrau percorrido,
o chão está mais distante,
as cadeiras do templo
e as pessoas
ficam diminutas,
parecem peças
de uma casa de bonecas
em que a gente
costumava brincar.
Quão pequeno e grande
é o homem
em sua existência!
Ele é um bater de asas
de uma borboleta
que causa tufões
por onde passa.
É um grão de areia
do qual depende
todo o deserto.
É o calor da fogueira
que inspira corações,
que aquece a alma.
E qual é a recompensa de
enfrentar a altura,
o medo da queda?
A civilização humana
se descortina para você
no topo do templo.
A cidade revela
seus fins,
seus segredos,
seus labirínticos
caminhos.
O tempo,
a história,
a fé,
a potência da vida
confluem
em uma única vista
que aquece
o coração da criança
que levo comigo
desde sempre.

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Written by Gigi Eco
Gigi Eco ama aprender e faz muitas coisas ao mesmo tempo - é jornalista, fotógrafa, professora, rata de biblioteca e musicista por acidente. Ama viajar e é viciada em chás. É a escritora oficial dos cartões de Natal da família. É Doutora em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e atualmente trabalha no seu primeiro livro de poesias.