Sexta carta

Você sabe que eu sempre gostei de viajar, mesmo que fosse sozinha, então não foi um problema pegar o trem rápido na estação da cidade de Brescia para ir te encontrar. Todos me falaram que você respirava arte, que ela estava presente em todo o seu ser. Eu me perguntava se não seria um exagero dizer algo assim. Mas finalmente nos encontramos e sim, acho que essa afirmação não estava totalmente correta. Subi 463 degraus para te ver de cima e caminhei pelo Giardino di Boboli, lugar ideal para apreciar a sua silhueta de longe. Tudo isso, somado às cenas urbanas mais comuns transfiguradas pela beleza renascentista das ruas, das esculturas, dos mármores, das cores e estampas dos artesãos nas vitrines, me convenceu que você não só respira arte. Você é a arte em seu estado mais puro e atemporal. E foi ali, nas salas da Galleria degli Uffizi, observando as flores que caíam e voavam sobre o mar, que me apaixonei. Foi um daqueles instantes em que o tempo se dilata e passa mais devagar. Naquele momento não havia grupos de turistas apressados seguindo o seu guia, nem o burburinho abafado dos visitantes. Aquele momento era só meu e da Vênus. Eu queria muito ter passado mais tempo com você. Mas já estava com a passagem de trem comprada para o sul e os seguranças queriam fechar logo o museu. Obrigada pelas flores, Firenze. Levo seu perfume sempre comigo. Saudades sempre, e até o reencontro! Arrivederci!
Ca

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Written by Ca Amatti
Ca Amatti é arquiteta restauradora, apaixonada pelos edifícios antigos, por viagens e artes gráficas. Tem saudades do futuro, mas ama os vestígios do tempo no mundo. Atualmente reside em Varsóvia, protegendo velhos palácios e monumentos dos efeitos devastadores do tempo e do esquecimento.