Inverno no hemisfério norte

Quando falo que moro na Polônia, uma das primeiras coisas que as pessoas falam é: “nossa, deve ser muito frio lá, não é?” De fato, durante os meses de inverno pode ser bem frio para o que estamos acostumados no Brasil. Hoje de manhã, por exemplo, a temperatura estava em -10° C. Em dias assim, sair de casa demanda todo um ritual: vestir um casaco bem quentinho, luvas forradas, gorro, um cachecol espesso e botas resistentes. Sem esses itens, fica muito difícil enfrentar as baixas temperaturas.

Aqui na Polônia não é diferente. Com frequência me perguntam se não é muito frio para mim, pois sendo brasileira, acreditam que estou acostumada às altas temperaturas tropicais. É verdade que o frio muda a nossa rotina e restringe bastante a quantidade de tempo que passamos ao ar livre. Mas é um prazer chegar em casa ou no trabalho e estar absolutamente quentinho. Sem precisar pegar camadas e camadas de roupa e cobertor para se aquecer, como a gente costuma fazer durante o inverno no sul do Brasil.

O que incomoda mais, na minha opinião, é o fato de que os dias se tornam realmente curtos. Às 7:00 da manhã ainda está um pouco escuro e depois das 15:30 já é noite! E então a gente percebe o quanto o sol faz falta em nossas vidas. Novembro costuma ser um mês úmido, tenebroso e cinza, mas todo esse sentimento de reclusão e desânimo se esvanece com a chegada da neve. É como se toda aquela paisagem um pouco desolada das árvores que perderam as folhas no outono se iluminasse. É meu quarto inverno aqui, mas ainda fico encantada com a neve como da primeira vez. A forma suave e silenciosa como ela chega. Quando cai a primeira neve do inverno ainda saio para tentar pegar os flocos. Os poloneses, que já viveram muitos invernos e já viram muita neve, nem sempre ficam com tanto entusiasmo assim. Eles já pensam nas botas sujas e na neve que precisa ser limpa nas calçadas.

Em dezembro a cidade começa a se preparar as festas de fim de ano, as ruas são decoradas com luzinhas. Em Varsóvia é montada na praça principal da cidade velha uma pista de patinação de gelo. Surgem as feirinhas de Natal, onde é possível encontrar quentão, linguiça, além de produtos típicos e artesanais. E então, por mais que a temperatura esteja negativa, a cidade se ilumina com uma aura mágica. O inverno é também a estação das tulipas, que surgem em canteiros e nos quiosques de flores, trazendo cores vibrantes à paisagem branca.

A todos os nossos leitores, envio um abraço quentinho e aconchegante diretamente do inverno polonês!

 

Share:
Written by Ca Amatti
Ca Amatti é arquiteta restauradora, apaixonada pelos edifícios antigos, por viagens e artes gráficas. Tem saudades do futuro, mas ama os vestígios do tempo no mundo. Atualmente reside em Varsóvia, protegendo velhos palácios e monumentos dos efeitos devastadores do tempo e do esquecimento.