Instantes fugazes

Papai fugia da minha câmera fotográfica. Reclamava (de novo) do meu hábito um tanto (e, na maioria das vezes,) irritante de tirar muitas fotografias espontâneas das pessoas, a fim de tentar captar os tais instantes decisivos dos quais o fotógrafo Henri Cartier-Bresson falava. Ele não é a primeira pessoa que encontrei nessa vida que não gosta de ser fotografada (ok, vou ser justa, às vezes ele me deixa tirar algumas fotos quando está de bom humor).

Muitos não estão arrumados o suficiente. Não se acreditam fotogênicos. Alguns queimam suas fotos de criança. Ou recortam suas faces por sempre piscarem nas fotos. Acham esquisito e não gostam de se ver na imagem congelada (algo semelhante acontece quando nos vemos em vídeo ou escutamos a gravação da nossa própria voz).

Acho que é o estranhamento de se ver de fora. De se ver inteiro. Com todas as singularidades. Imperfeições. Rugas. Manchas. Cicatrizes. Sorrisos. Brilho nos olhos. Trejeitos. E é difícil aceitar toda essa complexidade rapidamente. 

Mas eu não trocaria nenhuma das minhas fotos espontâneas por um ensaio com um fotógrafo profissional famoso. E também acho que minhas fotos imperfeitas são muito mais belas. 

Porque eu não estou interessada no que é artificial. Eu quero congelar as pessoas como elas são. Não como elas posam. Eu quero fotografar o que acontece no cotidiano, que fica bem longe de um estúdio fotográfico.

A beleza não é perfeita. Não é simétrica. E muitas vezes a gente não se dá conta disso.

Às vezes a gente precisa reaprender a ver.

Primeiro de janeiro é uma boa data para pensar em não fugir tanto das fotos espontâneas. O primeiro dia do ano sempre é carregado de promessas. A gente tem a sensação de recomeço. Renovação.

É a oportunidade perfeita para enxergar a beleza do cotidiano. E a nossa própria beleza.