Em uma tarde de uma terça qualquer
Os quatro estavam sentados em um pequeno banco no corredor do segundo andar da universidade. Como em um fila de espera tensa de um consultório médico, eles aguardavam para fazer a prova oral de francês individualmente. Eram dois rapazes, uma moça e uma senhora. Naquele corredor mal iluminado, enquanto um dos meninos realizava alguns apontamentos rápidos para utilizar na prova e os outros dois jovens respiravam aliviados pelo desafio já enfrentado, a senhora tagarelava. Falava sobre o atentado em Paris, mostrava as fotos dos netos no celular e, de repente, começou a contar sobre quando ela começou a estudar francês na universidade há dois anos.
“Eu vim toda tímida, em uma turma de pessoas bem mais jovens. Mas fui lá e enfrentei. Eu nunca tive medo de nada. Sempre tive medo de ter medo de alguma coisa.”
Ela contou que era a mais velha dos irmãos e sempre precisou batalhar para realizar seus sonhos.
“Como eu falo para os meus netos: “Cavalo selado não passa duas vezes”. Se você tem uma oportunidade, você precisa estar atento e aproveitar, porque ela não vai acontecer de novo”.
Às vezes eu acho que a gente está perdendo a capacidade de produzir e de realizar ações concretas. De sentir e de viver realmente com intensidade. Estamos perdendo a capacidade de estabelecer vínculos, pois não temos tempo. Estamos totalmente entretidos no nosso mundinho virtual, com as mensagens do WhatsApp e as atualizações do Facebook.
“A gente gosta de pensar que tem tudo sob controle. Mas no fundo a gente não tem controle de nada.”
A senhora acabou lembrando da prova que acabara de realizar, tinha sido a primeira a enfrentar os questionamentos do professor:
“Perguntei ao professor o que lhe fazia feliz… sabem, não adianta pensar que a gente vai ser feliz ano que vem, quando viajar ou quando for fazer algo… Eu já sou feliz por vir para a aula de francês toda semana. Eu fico feliz por assistir um filme na televisão. Eu sou feliz agora”.
O futuro não nos pertence. E a gente se esquece disso e acaba vivendo dia após dia no modo automático. Num ritmo morno. Como se tivéssemos toda a eternidade pela frente.