Descobertas
Finados. Meu feriado foi especial. Especial porque fui ao cemitério. Não que eu nunca tenha ido ao cemitério na vida. Eu fui. Uma vez em uma aula de fotojornalismo. Imagine, para desenhar. Tentativas frustradas de rabiscar linhas. Foi bem no comecinho do curso, quando aprendíamos sobre enquadramentos. E naquela época nem fazia ideia que no mesmo cemitério estão três túmulos de minha família. Fiz essa descoberta quatro anos depois. Quando criança, pensava em túmulos como cenas de filmes de terror. Arrepios. Mas a sensação de observar o túmulo dos antepassados é diversa. Emocionante.
É incrível pensar como nossa história começou há muitos e muitos anos antes de nós. E como ela continuará muito e muitos e muitos anos depois de nós. E como guardamos sonhos e sentimentos desses familiares tão distantes, que nem chegamos a conhecer. E… como não existe caos. E como o universo inteiro conspira ao nosso redor. Você já pensou se o seu tatataravô italiano simplesmente abandonasse a ideia de imigrar para o Brasil, casasse com uma conterrânea e permanecesse na Itália? Ou se ele chegasse um ano depois do que de fato aconteceu e não encontrasse sua futura esposa? Ou se a sua bisavó, no dia em que era para conhecer seu bisavô em uma mercearia, simplesmente decidisse olhar vitrines, ir na igreja ou simplesmente ficar em casa?
É muito louco pensar em como todas as histórias desses antepassados, tatataravôs, tataravós, bisavôs, avôs e avós confluem misteriosamente para a construção de nossa história. Se qualquer um deles, qualquer pecinha do jogo, estivesse em outro lugar ou em outro momento, nós não estaríamos aqui. Agora. E quando penso nesses homens e mulheres cheios de coragem, que atravessaram um oceano em busca de novas perspectivas, tenho certeza de que a história deles é a minha história. Me sinto uma cidadã do mundo, com pedaços de história perdidos em tantos países, tantas cidades e escritos em idiomas os mais diversos…
No fim, você está espalhado pelo mundo todo. Passado. Presente. Futuro. Como a poeira de estrelas. E, talvez, desvendar algumas dessas histórias perdidas seja o caminho. O caminho para entendermos quem somos. E porque aqui estamos.