About life
Mesmo que a morte me devesse ferir naquele instante, isso me pareceria indiferente, ou antes impossível, pois a vida não estava fora de mim, estava em mim; eu sorriria de piedade se um filósofo tivesse emitido a ideia de que um dia, mesmo afastado, eu teria de morrer, que as forças eternas da natureza sobreviveriam a mim, as forças dessa natureza sob cujos pés divinos eu não passava de um grão de poeira; que, depois de mim, ainda haveria aquelas rochas arredondadas e cheias, aquele mar, aquele luar, aquele céu! Como seria isso possível, como poderia o mundo durar mais do que eu, já que eu não estava perdido nele, ele é que estava contido em mim, em mim que ele estava muito longe de encher, em mim, onde, sentindo lugar para acumular tantos outros tesouros, eu lançava desdenhosamente, para um canto, mar e rochedos.
Marcel Proust
À sombra das raparigas em flor
Gigi, AMO Proust.
Como é que ele pôde escrever coisas tão lindas?
Proust está cada dia me surpreendendo mais, Ca… Pela poesia, pela perspicácia em observar os pequeno detalhes maravilhosos da vida. E é como li no livro de ensaios sobre o autor – você começa a ler 'Em busca do tempo perdido' com calma. Poucas páginas por dia. Até que o vício pega e não tem jeito. Você tem que ler loucamente até o fim.