A tempestade de uma consciência

Quem já viu ou leu “Os Miseráveis” já deve ter notado como é impossível não se comover com os personagens, como o sofrimento de Fantine e a trajetória de Jean Valjean, e com o belo retrato que Victor Hugo pintou da França na época. Devo admitir que nunca fui fã de musicais, mas quando assisti a última versão com Anne Hathaway e Hugh Jackman o filme me conquistou! E agora leio o livro, que me impressiona a cada página com o toque de genialidade do autor.
Aqui segue um trechinho para vocês, sobre o sr. Jean Valjean:
“Já perscrutamos bastante as profundezas dessa consciência e é chegado o momento de continuarmos a examiná-la. Não o fazemos sem emoção ou estremecimento. Nada existe de mais terrível que esse tipo de contemplação. Os olhos do espírito não podem encontrar em nenhum lugar nada mais ofuscante, nada mais tenebroso que o homem; não poderão fixar-se em nada mais temível, mais complicado, mais misterioso e mais infinito. Existe uma coisa que é maior que o mar: o céu. Existe um espetáculo maior que o céu: é o interior de uma alma”.
Qual o peso, a profundidade de uma consciência? Victor Hugo a compara à porta do Inferno em que adentra Dante. Dela nunca podemos nos esconder. Ela vence tudo. Até o impenetrável e o invisível. Dostoiévski também nos mostra o poder de uma consciência em “Crime e Castigo”, quando Raskólnikov assassina uma velha agiota. Na história, o jovem consegue fugir das pessoas e enganar a polícia, mas não consegue escapar do maior e mais perigoso carrasco de todos: sua consciência.
Quando penso nisso, na consciência que cada um carrega, me vem essa frase: olhos brilham como luzes. É uma pequena amostra do que carregamos lá dentro. Da poeira de estrelas (ou da própria estrela) que nos constitui e nos consome. E nos faz também um pouco divinos, conectados ao cosmos.
E, como de nossa consciência não podemos escapar (nem com a porta trancada e as luzes apagadas, como tentou Jean Valjean), devemos escutá-la. Honrá-la. É o suficiente para nos fazer viver bem.
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Written by Gigi Eco
Gigi Eco ama aprender e faz muitas coisas ao mesmo tempo - é jornalista, fotógrafa, professora, rata de biblioteca e musicista por acidente. Ama viajar e é viciada em chás. É a escritora oficial dos cartões de Natal da família. É Doutora em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e atualmente trabalha no seu primeiro livro de poesias.