Asteroide B612

O Pequeno Príncipe estava lá. Eu podia sentir no ar. Quando vovô me disse que nós visitaríamos a ilha de Paquetá, eu não dei muita importância. Dentre tantos lugares para visitar na cidade do Rio de Janeiro, uma ilha de 4.500 habitantes, onde foram filmadas algumas cenas de uma famosa novela brasileira, estaria no fim da minha lista. Mas vovô insistiu. Paquetá foi uma dos lugares em que ele e vovó passaram sua lua de mel. Eles queriam ir para lá mais uma vez.

A experiência de visitar Paquetá foi surreal. A pequena ilha é um bairro bem diferente da cidade do Rio de Janeiro – para chegar lá a única maneira é pegar uma balsa.

Então assim fizemos. Fugimos da agitação da grande cidade e fomos para a Praça XV, onde iríamos pegar a balsa para a ilha. Enquanto os trabalhadores apressados ​​passavam por nós, correndo para começar outro dia de trabalho, estávamos indo contra o fluxo.

Quando chegamos e coloquei os pés na ilha, suspeitei que a balsa fosse uma máquina do tempo disfarçada. As antigas casas de alvenaria, as gaivotas, as ruas de pedra e as carruagens… cada detalhe remetia ao Rio de Janeiro que se perdeu ao longo dos anos.

Passamos um dia na ilha. Na parte da manhã, fizemos um passeio de carruagem, vendo as mais lindas vistas da região. No final do tour, o Baobá nos encontrou, como uma joia escondida. No livro de Exupéry, esta árvore é um pesadelo para o Pequeno Príncipe. Como ele vive em um planeta que é um pouco maior do que ele, o pequeno príncipe precisa fazer a limpeza diária de seu planeta para encontrar as sementes de Baobá, porque essas árvores são gigantes também na vida real e podem atingir até 25 metros de altura.

Mas em Paquetá, o Baobá não é um vilão e guarda uma lenda: “Sorte por longo prazo a quem me beija e respeita. Mas sete anos de atraso… a cada maldade, a mim feita”. Não tive dúvidas e eu beijei o Baobá imediatamente. Por que arriscar sete anos de atraso? Fiquei tão feliz em encontrar esta árvore que fazia parte da minha infância, quando sonhava com o Pequeno Príncipe, sua rosa e baobás sorrateiros que poderiam dominar seu planeta em um segundo!

Ao retornar ao Rio de Janeiro, o reflexo do sol brilhava na água. Era como se milhares de diamantes estivessem ao meu redor. O vovô estava certo. Essa viagem à Paquetá foi extraordinária. Em meio a todas essas luzes brilhantes, essas estrelas no oceano, senti que também fiz uma viagem ao planeta do Pequeno Príncipe, o Asteroide B612. E depois dessa experiência, a vida nunca mais seria a mesma.

Giovana Montes Celinski

*Esse texto foi originalmente publicado no meu diário de viagens do site World Nomads.

Asteroid B612

The Little Prince of Exupèry was there. I could feel it in the air. When grandpa said we would pass by the island of Paquetá, I have not given much importance. There are so many places to visit in the city of Rio de Janeiro, so an island of 4,500 inhabitants where were shot some scenes of a famous Brazilian soap opera would be in the end of my list. But grandpa insisted. It was one of the places that he and grandma visited on their honeymoon. They wanted to go there once again.

The experience of visiting Paquetá is somewhat surreal. This small island is a very different neighborhood of the city of Rio de Janeiro – to get there the only way is by ferry.

So we fled from the hustle of the big city and went to the XV Square to take a ferry to the island. While hurried workers passed by us, running to start another day of work, we were going against the flow.

When we arrived and I put my feet in the island, I suspected that the ferry was a time machine in disguise. The old houses of masonry, the gulls, the stone streets and the carriages… every detail remitted to a Rio de Janeiro lost over the years.

We spent a day on the island. In the morning, we did a tour of carriage seeing the most beautiful views of the region. At the end of the tour, the Baobab found us, as a hidden gem. In the book of Exupèry, this tree is a nightmare for the Little Prince. As he lives on a planet that is a little bigger than himself, the Little Prince daily needs to do the toilet of his planet to find the seeds of Baobab, because these trees are giants also in real life and they can reach up to 25 meters height.

But in Paquetá, the Baobab isn’t a villain and it guards a legend: “Long-term luck to who kisses and respects me. But seven years of delay to every evil done to me”. I did not have doubts and I kissed the Baobab immediately. Why risk seven years of delay? I was so happy to find this tree that was part of my childhood, when I dreamed of the Little Prince, his rose and sneaky baobabs that could dominate his planet in a heartbeat!

While returning to Rio de Janeiro, I note that the sun’s reflection in the water left the sea all shining. It was like a thousand diamonds were burning around me. Grandpa was right. This trip to Paquetá was extraordinary. Amid all these bright lights, these stars in the ocean, I felt like I had also made a trip to the small planet of the Little Prince, the Asteroid B612. And after this experience, life would never be the same again.

Giovana Montes Celinski

*This text was originally published in my travel diary of the website World Nomads.