Sakuras: a delicadeza e poesia das cerejeiras em flor

No último fim de semana, alguns lugares estratégicos de cidades brasileiras foram presenteados com o florescimento da bela sakura, a flor nacional do Japão, conhecida no Brasil como flor de cerejeira. De lá para cá, vejo todos os dias cerejeiras no meu caminho cotidiano, trazendo cor para o cenário cinzento da cidade.

Vocês já experimentaram contemplar essas delicadezas por alguns minutos? No Brasil, as sakuras trazem poesia e beleza para os melancólicos dias de inverno, contrastando com dias nublados ou com um céu de azul intenso, proporcionando uma paz de espírito sem igual aos seus observadores.

Cerejeiras em flor no clube japonês em Ponta Grossa (Brasil) * Cherry blossoms at the Japanese club in Ponta Grossa (Brazil)

Essas flores são muito festejadas pelos japoneses, pois marcam o fim do inverno e a chegada da primavera. Já virou costume tradicional japonês celebrar o Hanami – o ato de contemplar as cerejeiras em flor. Todos os anos a Agência Meteorológica do Japão anuncia a previsão dos dias em que será possível observar as sakuras, assim milhões de japoneses podem planejar festividades ao ar livre e celebrar o início da nova estação.

De acordo com o site Significados, não se sabe ao certo a origem da palavra sakura. Segundo uma antiga lenda japonesa, o termo surgiu com a princesa Konohana Sakuya Hime. Ao cair do céu, pertinho do Monte Fuji, transformou-se na flor de cerejeira.

Os samurais também apreciavam muito as sakuras. Essas flores florescem em um período de tempo relativamente curto – de uma a duas semanas -, refletindo em seu próprio ciclo de vida a fragilidade do tempo e a fugacidade da vida. Elas mostram em sua breve existência um pouco da filosofia dos bravos guerreiros japoneses, que é preciso viver o presente com intensidade. Sem medo, sem volta.

Sakuras na minha Terra do Nunca: esses exemplares são especiais, estão na chácara de meu avô * Sakuras in my Neverland: these specimens are special, they are in my grandfather’s farm

As sakuras também me lembram de uma palavra intraduzível da língua japonesa que li no livro Lost in translation, de Ella Frances Sanders. Essa incrível palavra é wabi-sabi: o ato de buscar a beleza nas imperfeições, de aceitar o ciclo de vida e de morte de toda existência. Essa palavra, derivada de ensinamentos budistas, volta-se para a descoberta da beleza na incompletude e na imperfeição. Para o aceite da transitoriedade e da assimetria de nossas vidas, que pode nos levar para uma existência mais satisfatória.

Que as cerejeiras em flor nos inspirem a cultivar o wabi-sabi. Que possamos amar a impermanência pelos seus ciclos de nascimento e de morte. Pelas imperfeições, assimetrias e rugas de um rosto humano, que conta mais histórias do que milhares de livros. Que possamos cair de joelhos à noite e agradecer: a vida é transitória e ainda estamos aqui. Que possamos abrir os olhos pela manhã e sorrir: infinitas possibilidades se descortinam diante de nós. Que possamos enxergar a beleza no cotidiano: no sorriso de um desconhecido, em um abraço quentinho, na alegria de uma criança, na beleza de uma flor.
Aproveito para agradecer à querida Maisa Oda por ter me contado sobre o nome japonês da flor de cerejeira. <3

Gigi Eco

Contemplar as cerejeiras em flor nesse clube japonês de minha cidade é surreal. As árvores estão por todo o local, proporcionando um incrível espetáculo * Contemplating the cherry blossoms in this Japanese club in my city is surreal. The trees are all over the place, providing an amazing spectacle

Cerejeiras em flor: sobre encontrar a beleza nos pequenos momentos da vida * Cherry blossoms: about finding beauty in the small moments of life

 

Sakura: the delicacy and poetry of cherry blossoms

 

Last weekend, some strategic places in Brazilian cities were presented with the blossoming of the beautiful sakura, the national flower of Japan, known in Brazil as cherry blossom. From here on, I see Japanese cherry trees every day on my daily journey, bringing color to the gray scenery of the city.

Have you ever experienced contemplating these delicacies for a few minutes? In Brazil, sakuras bring poetry and beauty to the melancholy days of winter, contrasting with cloudy days or a sky of intense blue, providing peace of mind for its observers.

These flowers are much celebrated by the Japanese, as they mark the end of winter and the arrival of spring. It has already become a traditional Japanese custom to celebrate Hanami – the act of contemplating cherry blossoms. Every year the Japan Meteorological Agency announces the forecast of days when it will be possible to observe sakuras, so millions of Japanese can plan outdoor festivities and celebrate the start of the new season.

According to the website Significados, the origin of the word sakura is not known for sure. According to an ancient Japanese legend, the term appeared with the princess Konohana Sakuya Hime. When falling from the sky, near Mount Fuji, she became the cherry blossom.

The samurai also greatly appreciated the sakuras. These flowers bloom in a relatively short period of time – one to two weeks – reflecting in their own life cycle the fragility of time and the fugacity of life. They show in their brief existence a little of the philosophy of the brave Japanese warriors, that we must live the present with intensity. Without fear, without coming back.

The sakuras also remind me of an untranslatable Japanese word I read in Ella Frances Sanders’s book Lost in Translation. This incredible word is wabi-sabi: the act of seeking beauty in imperfections, of accepting the cycle of life and death of all existence. This word, derived from Buddhist teachings, turns to the discovery of beauty in incompleteness and imperfection. To the accepted transience and asymmetry of our lives, that can lead us into a more fulfilling existence.

May the cherry blossoms inspire us to cultivate the wabi-sabi. May we love impermanence for its cycles of birth and death. For the imperfections, asymmetries and wrinkles of a human face, which tells more stories than thousands of books. May we fall to our knees at night and thank: life is transitory and we are still here. May we open our eyes in the morning and smile: infinite possibilities unfold before us. May we see beauty in everyday life: in the smile of a stranger, in a warm embrace, in the joy of a child, in the beauty of a flower.

I take this opportunity to thank dear Maisa Oda for telling me about the Japanese name of the cherry blossom. <3

Gigi Eco

Share:
Written by Gigi Eco
Gigi Eco ama aprender e faz muitas coisas ao mesmo tempo - é jornalista, fotógrafa, professora, rata de biblioteca e musicista por acidente. Ama viajar e é viciada em chás. É a escritora oficial dos cartões de Natal da família. É Doutora em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e atualmente trabalha no seu primeiro livro de poesias.