Natal no hemisfério norte

Queridos leitores,

Sei que estou meio atrasada para falar sobre o Natal, mas como ainda não chegou o dia dos Reis Magos, e eu não desarrumei o pinheirinho, queria compartilhar com vocês como foi celebrar o Natal na Polônia, onde esse é considerado o feriado mais especial de todo o ano. Passei a véspera e o dia do Natal com a família de uma amiga polonesa, a Karolina. Nós nos conhecemos porque a Karolina mora com outra brasileira aqui em Varsóvia e ela queria aprender português. Então ela me ensina polonês e eu ensino português. É bem bacana!

 
A árvore de Natal da família da minha amiga.
Aqui são muito populares os pinheirinhos de verdade.
É raro vermos pinheirinhos artificiais.

A família dela mora no campo, a pouco menos de uma hora de trem de Varsóvia. É um cenário bem tranquilo e acolhedor. Os poloneses chamam o dia 24 de Wigilia, nesse dia é feito jejum e a ceia inicia quando aparece a primeira estrela no céu. Como nessa época anoitece cedo, não é preciso esperar tanto. E como o céu estava nebuloso, bastou escurecer para começar!

Antes da ceia, é repartido o opłatek. O opłatek é um pãozinho, muito parecido com a hóstia, que é repartido entre todos. Cada um recebe um pedaço e deve trocar um pedacinho do seu opłatek com todos os outros. Essa é uma tradição linda que minha família de origem polonesa faz no Brasil. Quando você troca o opłatek com uma pessoa significa que todas as mágoas e ressentimentos que possam existir são esquecidos e você deseja também tudo de bom para o outro.

Embaixo da toalha de mesa é colocado um pouco de feno para lembrar que o menino Jesus, que é Rei, nasceu em uma manjedoura. É tradição também arrumar na mesa um lugar a mais que o número de convidados. Esse é o lugar do “visitante desconhecido” e significa que se alguém bater pedindo abrigo, terá um lugar para cear com a família.

Na Polônia é sempre tradicional servir uma sopa antes dos outros pratos. Na noite da Wigilia tivemos barszcz z uszkami (sopa de beterraba com orelhas – massinhas recheadas). Tivemos também várias opções de peixe (porque não se come carne no dia 24), pierogi, salada, pães, defumados. Outra tradição é que deve haver pelo menos 12 pratos na mesa, e todos devem comer um pouquinho de cada um, para ter sorte e prosperidade nos 12 meses do ano. Acho que tinha mais que 12 pratos… e ainda havia tortas, bombons e docinhos de sobremesa. E, claro, sempre muita wodka!

Depois da ceia, foi a hora do Mikołaj entregar os presentes. Foi muito divertido porque minha amiga foi o Mikołaj e o bom velhinho trouxe até uma wodka polonesa para mim!! Após a ceia é também tradicional cantar kolędy. As kolędy são canções tradicionais natalinas polonesas. A verdade é que também fui convidada a cantar algumas canções de Natal brasileiras, mas aí eu desafinei um pouquinho… ahahah

E então aguardamos para ir na Pasterka. A Pasterka é a missa especial de Natal à meia-noite. Fomos em uma igreja pequena, de madeira, muito bonita – estava absolutamente lotada! E foi bem emocionante. Havia vários pinheiros de Natal enfeitados na igreja e um lindo presépio. É verdade que nessa hora senti ainda mais saudades de toda a minha família no Brasil, porque é um momento em que ficamos a sós e lembrei de cada um que me é querido e que estava longe.

   
Igreja em que fomos na Pasterka. Vejam que lindos os pinheirinhos!
 

No dia 25, também almocei com a família da Karolina. Assim como na ceia, tudo estava delicioso. Agradeço muito pelo carinho com que me receberam. Mas, ainda assim, faltava um elemento para o tradicional Natal na Polônia – a neve! Apesar do frio, nem um floquinho até então. Foi só no fim da noite, já de volta em Varsóvia, que ela chegou. E foi assim que terminou esse Natal encantado, permeado de saudades em terras polonesas.

 
Decoração de Varsóvia para o Natal.
 

Desejo a vocês leitores, um maravilhoso Ano Novo, repleto de novas histórias incríveis para viver.

Um abraço,
Ca Amatti
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Written by Ca Amatti
Ca Amatti é arquiteta restauradora, apaixonada pelos edifícios antigos, por viagens e artes gráficas. Tem saudades do futuro, mas ama os vestígios do tempo no mundo. Atualmente reside em Varsóvia, protegendo velhos palácios e monumentos dos efeitos devastadores do tempo e do esquecimento.